A NOVA TOUPEIRA: OS CAMINHOS DA ESQUERDA LATINO-AMERICANA
A expectativa de uma forma alternativa de poder, capaz de resgatar a esfera pública e reduzir as drásticas desigualdades que assolam nosso continente, produziu surpreendente resultado nas urnas ao sul das Américas, quando novos governos progressistas emergiram com a incumbência de enfrentar e superar o Estado mercantilizado que marcou a década de 1990. Amparados nos movimentos de resistência ao neoliberalismo, esses governos navegaram em águas mais ou menos turbulentas, com estilos e recursos distintos, assim como diversos são hoje os resultados dessa renovação.
Alguns governos puseram em prática níveis de regulação do Estado e interromperam o processo de privatização em curso, mas mantendo o modelo neoliberal; outros buscaram a refundação do Estado e avançaram com a aprovação de nova Constituição. Em todos eles, porém, as políticas sociais predominaram e a opção por processos de integração regional permitiu a formação de um bloco que, se fortalecido, pondera Sader, será forte contribuição à construção de um mundo multipolar.
A despeito de suas diferenças, o apoio popular aos governantes é também característica desta nova etapa da luta da esquerda latino-americana pela emancipação de seus povos. Contudo, o destino do neoliberalismo no continente não está definido. “O que será da América Latina depois desses governos progressistas? Que grau de irreversibilidade têm as transformações?”.
Até que ponto o recente impulso transformador da América Latina pode aprofundar modelos de Estado antineoliberal, em um mundo que reafirma constantemente a hegemonia capitalista sob a dominação imperial norte-americana? Para responder essa questão, Sader converge suas análises dos processos históricos de resistência nacional e anticapitalista. A nova toupeira é um convite à reflexão e ao compromisso de articulação entre a atividade intelectual e os processos de luta política e social em cada país. É também o registro da esperança que, assim como a toupeira, sem fazer alarde surge do fundo da terra, a América Latina desponte no horizonte futuro em que “outro mundo é possível”.