A TERCEIRA MARGEM: EM BUSCA DO ECODESENVOLVIMENTO

Ignacy Sachs tem 81 anos de idade. Independentemente da sua impressionante vitalidade criativa, é um pedaço de história. Na realidade, é por meio do seu estudo autobiográfico que se descortina todo o panorama de evolução das ciências sociais, basicamente da Segunda Guerra Mundial para cá, na ótica da esquerda, e com o importante enfoque dos que buscam alternativas sem acreditar em catecismos. É claramente uma pessoa que tem aproveitado todas as oportunidades para fazer avançar uma agenda progressista.
Bem escrito e bem editado, este livro se lê num fim de semana, forma simpática de fazer um zoom histórico, de ver em perspectiva os males que enfrentamos hoje. Na sua luta por um planejamento mais flexível na Polônia, por processos mais inclusivos na Índia, pelo ecodesenvolvimento nas conferências de Estocolmo-1972 e Rio-92, pelo desenho prospectivo de um novo paradigma energético-produtivo capaz de satisfazer tanto os desafios climáticos como os de inclusão produtiva nos dias de hoje, Ignacy Sachs apresenta coerência e tenacidade. Já usa uma bengala, mas diz que é para melhor convencer. Bengalas, realmente, podem ter diversas utilidades.
A “terceira margem” do título vem da própria trajetória do autor, que viveu o suficiente no socialismo burocrático da Polônia, colaborando com Kalecki e outros, para ter uma visão crítica deste processo, e que hoje, no capitalismo realmente existente, se tornou mais crítico ainda.  Há, segundo Sachs, muitas soluções numa “terceira margem” que aproveite diversos aportes. São novos rumos que temos de buscar e construir. E o lado propositivo nos textos de Sachs é sempre rico.
Um tira-gosto: “É muito fácil promover grandes debates maniqueístas entre o bem e o mal. Mas os verdadeiros problemas começam quando devemos formular propostas concretas de ação, portanto, no exercício do que chamo voluntarismo responsável. Alguns chamam a isso pragmatismo. Que seja”.