O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO
No site da Monsanto Brasil se destaca o slogan “alimentos em abundância em um meio ambiente saudável”. Seriam boas notícias vindas de uma empresa “amigável ao meio ambiente? Ledo engano!
É sobre esse mundo, onde aparência e essência se situam em campos completamente opostos, que se debruça Marie-Monique Robin. A autora pesquisou durante quatro anos a companhia americana Monsanto, e o resultado é o livro O mundo segundo a Monsanto. Dentre os temas espinhosos tratados, a omissão de informação da toxidez do agente laranja durante a guerra do Vietnã; a contaminação inadvertida de operários e consumidores por PCBs, produtos utilizados em transformadores elétricos e tintas industriais e que se acumulam na cadeia alimentar; a ocultação de dados científicos incômodos sobre os efeitos danosos da utilização do herbicida Roundup; e o efeito do consumo de plantas transgênicas na saúde humana e no ambiente.
Porém, o mais impressionante de tudo é descobrir a prática sistemática de ocultação da verdade e outras ações abusivas, em que a empresa confunde o debate público e facilita a aprovação de seus produtos. Um exemplo é o das “portas giratórias”, expressão que designa a ocupação de cargos na esfera pública por funcionários ou associados financiados pela Monsanto, justamente nas áreas onde se decide a liberação dos produtos da empresa. Há ainda, neste livro de horror ético-ambiental, a corrupção de funcionários do Estado, a perseguição implacável aos opositores e um monstruoso aparato jurídico para blindar a empresa.
Não bastasse isso, a autora descreve a falsificação de identidades para atacar cientistas críticos à Monsanto. O caso ocorreu no México, onde foram publicados estudos sobre a contaminação por transgênicos dos centros de diversidade genética do milho. Para difamar os pesquisadores responsáveis, funcionários da Monsanto e de empresas especializadas em marketing viral, contratados por ela, se fizeram passar por cientistas que não existiam!
Essas e outras pérolas nefastas do empresariado estão nas quase 400 páginas do livro. Leitura indispensável num mundo em que cada vez mais nos afundamos na “sociedade do risco” como diz Ulrich Beck, e num país em que a CTNBio se esmera em escancarar as portas para os transgênicos.