Os sentidos do Lulismo: Reforma gradual e pacto conservador
O objetivo do livro, explicita o autor, é decifrar os significados do governo Lula do ponto de vista das relações de classes. A descolagem do “subproletariado” dos partidos conservadores e sua adesão ao “lulismo” e ao PT marcariam uma clivagem de classes (sob a linguagem de ricos e pobres) na política brasileira, em especial nas eleições de 2006 e 2010. Para André Singer, “o lulismo constituiu a ruptura real da articulação anterior (massa rural e burguesia industrial), ao deslocar o subproletariado da burguesia, abrindo possibilidades inéditas a partir dessa novidade histórica”.
Sua visão da relação do governo Lula com a classe dominante privilegia os conflitos entre, de um lado, a “coalizão rentista” (capital “financeiro” nacional e internacional) e, de outro, a “coalizão produtivista” (capital industrial e classe trabalhadora). A descrição da política econômica do governo procura abarcar as linhas principais das disputas de frações no interior do bloco no poder.

O “lulismo” é aproximado ao fenômeno clássico do bonapartismo, sendo este último interpretado como a presença de uma liderança arbitral e personalista sobre as classes fundamentais a partir do Estado, com apoio de uma base de massa, e visto o primeiro como próximo do “populismo” no Brasil. Para Singer, as coisas se passam, em parte, como se o “getulismo”, depois de derrotado pelos militares em 1964, ressurgisse não mais nos grandes centros urbano-industriais, mas agora nas áreas menos desenvolvidas.
O livro, incorporando um amplo leque de contribuições dos analistas do governo Lula e do PT, retratou com acuidade e originalidade a política brasileira atual. O autor capta em sua concretude a complexidade do fenômeno do “lulismo”, colaborando para reintroduzir o enfoque das relações de classes no pensamento sociopolítico brasileiro.