Pobre nação
Há quatro anos, o veterano jornalista britânico Robert Fisk chegou a uma aldeia do Afeganistão que havia sofrido, horas antes, brutal bombardeio da aviação norte-americana. Ao descerem do carro que os transportava, os repórteres ocidentais foram recebidos com uma saraivada de pedras. Fisk e seus colegas escaparam por pouco. No dia seguinte, seu artigo no jornal The Independent, de Londres, comentava que aqueles pobre afegãos tinham toda razão em tentar linchá-lo. Este é Robert Fisk, autor de Pobre Nação, um relato apaixonado sobre a guerra civil no Líbano.
Correspondente há mais de 30 anos em Beirute, Fisk é, de longe, o jornalista ocidental que mais conhece o Oriente Médio. E também o mais corajoso. Neste livro, ele adverte que “ninguém é o mocinho” no conflito libanês. Todos os beligerantes – cristãos, sunitas, xiitas, drusos, sírios e palestinos – têm sua parcela de responsabilidade. Mas Fisk aponta, claramente, o papel de Israel como o principal culpado pela carnificina. Ao invadirem o Líbano em 1982, os israelenses arrebentaram o frágil equilíbrio entre as facções beligerantes locais.

Esta é a diferença entre Fisk e os demais correspondentes da “grande imprensa” ocidental. Ele despreza a farsa da imparcialidade jornalística, sem perder a isenção e o compromisso com a verdade dos fatos. Seu relato sobre a chacina de Sabra e Chatila, em que as tropas de Israel, comandadas por Ariel Sharon, deram o sinal verde para o massacre cometido pelas milícias cristãs libanesas em dois campos de refugiados palestinos, é uma das peças mais comoventes que um jornalista foi capaz de produzir. O mesmo Fisk aponta claramente o papel da Síria nos sucessivos assassinatos políticos cometidos posteriormente no Líbano