
Edição 179


Quando a Fundação Gates semeia a fome
Considerando a crise alimentar iminente provocada pela guerra na Ucrânia, o Banco Africano de Desenvolvimento aprovou, em 23 de maio, um plano de emergência para aumentar a produção continental. Circunstancial, essa opção produtivista, baseada em “sementes e fertilizantes aperfeiçoados”, vai ao encontro do desastroso desenvolvimentismo agroindustrial dos grandes doadores

O inegável declínio da Yakuza
Por muito tempo, a máfia japonesa foi uma lenda. Agora, com a determinação de excluí-la da sociedade e o fortalecimento do controle policial, a Yakuza perdeu 70% de seus membros em quinze anos. Ela tem cada vez mais dificuldade para sobreviver. E, ao perderem ligação com os dirigentes econômicos e políticos, seus membros pouco a pouco abandonam o “código de honra”

Qual é a lei contra as invasões armadas?
Em poucas décadas, a justiça penal internacional realizou consideráveis progressos, não deixando teoricamente nenhum chefe de Estado ou dignitário suspeito de crimes em massa fora de seu alcance. Imensa conquista da humanidade, ela permanece bloqueada e sujeita a acusações de parcialidade. Os responsáveis pela guerra na Ucrânia serão julgados?

A esquerda russa dilacerada pela guerra
Encorajada pelos bons resultados nas eleições legislativas de setembro de 2021, uma nova geração de comunistas esperava se tornar a principal força de oposição ao Kremlin. Isso antes da guerra. Agora, a direção encoraja as operações armadas na Ucrânia, ao mesmo tempo que expurga os dissidentes. Fora do Parlamento, militantes de esquerda continuam o combate

Finlândia e Suécia quebram o ideal nórdico
Ao atacar a Ucrânia para impedi-la de um dia ingressar na Otan, o presidente russo, Vladimir Putin, precipitou a adesão da Suécia e da Finlândia à Aliança Atlântica. O abandono da neutralidade, aclamada pela população há parcos seis meses, leva os dois países nórdicos a abdicar de algo que fazia parte de sua identidade e de sua excepcionalidade

Duas ondas, dois mundos
É possível fazer uma análise da política internacional que não seja alinhada com Washington, Bruxelas, Paris, Pequim ou Moscou?

Como usar bem o inimigo
O que é uma democracia liberal? A história recente, marcada pelo que se chama de “crise”, tem visto esse tipo de regime apelar para a denúncia dos extremos e utilizar o medo para recorrer a várias modalidades de estado de emergência. Essa inclinação autoritária é apenas temporária ou seria intrínseca a um liberalismo ao mesmo tempo político e econômico?
Os traídos, os malandros e os poderosos da batalha da energia
Impacientes para renunciar aos combustíveis russos e asfixiar o Kremlin, os países europeus improvisaram soluções alternativas. Eles pagam cada vez mais caro por sua falta de preparo: disparada de preços, desaceleração econômica, novas submissões diplomáticas. Os Estados Unidos, de sua parte, esfregam as mãos…
A crise que prolongou a era do petróleo
No outono de 1973, logo após a Guerra dos Seis Dias, os países produtores de petróleo decidiram aumentar o preço do barril, enquanto a Arábia Saudita impôs um embargo aos Estados Unidos e à Holanda, que estavam armando Israel
Washington, o mestre do jogo
Um espectro assombra a Europa: o da pane seca. Desde a invasão da Ucrânia, as sanções ocidentais contra a Rússia provocaram uma alta brutal nos preços do gás e do petróleo, e lançaram uma batalha mundial pelo acesso às energias. Os europeus são os idiotas desse conflito. Incapazes de planificar uma transição para os recursos renováveis, eles trocam com urgência sua dependência em relação a Moscou por uma submissão a Washington (pág. 20). Isso porque a energia é uma questão de soberania. Ela compromete fornecedores e consumidores, oferece aos cartéis produtores uma arma geopolítica, como a que foi empregada durante o choque do petróleo de 1973 (pág. 18), e deixa as potências autossuficientes em uma posição de força.
O lado oculto das Cúpulas da Terra
Enquanto as temperaturas batem recordes na Índia e no Paquistão, onde o calor chegou perto de 50 °C durante vários dias, as Nações Unidas organizam, entre 2 e 3 de junho, na Suécia, uma grande conferência internacional sobre o meio ambiente. Seu título, “Estocolmo+50”, realça o tempo perdido desde a primeira Cúpula da Terra, de 1972.
Rumo às profundezas da Transamazônica
Trata-se da terceira maior estrada do Brasil, com uma distância equivalente ao trecho entre Lisboa e Helsinki. Mas uma rodovia inacabada, com trechos não asfaltados. Projeto faraônico lançado no início dos anos 1970, a Transamazônica deveria ligar o Brasil ao Oceano Pacífico. Entretanto, ela trouxe principalmente as chamas que devoram a grande floresta sul-americana
A disputa pelo voto evangélico
Muitos passaram a tratar como automática a associação entre evangélicos e bolsonarismo. No entanto, podemos pensar: o que é verdade e o que é preconceito sobre a atuação dos evangélicos na política? Afinal, todo evangélico é conservador? O que explica o comportamento eleitoral desse grupo?
O moralismo evangélico como arma política
Orientado por pastores como Silas Malafaia, que tem enorme capacidade de controle de suas comunidades pelo moralismo, Bolsonaro começou a usar esse moralismo como arma política. Com a economia em frangalhos e um governo catastrófico, o pânico moral entre os grupos vulneráveis é o que lhe resta
Não há uma relação fechada entre evangélicos e Bolsonaro
Irmã Cida, eleitora de Bolsonaro em 2018, crente fiel da Assembleia de Deus, percebeu que votou errado. A ficha caiu quando ela viu Bolsonaro imitando as pessoas que morriam de Covid. Ela percebeu que não havia cristianismo nele. Não há uma relação fechada entre evangélicos e Bolsonaro. E aqui entra nosso trunfo. É possível fazer a disputa. É possível acenar com a realidade e com uma leitura bíblica contextualizada
“Sangrar” a Rússia
Há algumas semanas, pode-se mesmo dizer que a única conclusão do conflito que os Estados Unidos verdadeiramente aceitariam seria um triunfo à romana dos exércitos ocidentais em Moscou, com Biden na tribuna e Putin numa jaula de ferro. Para realizar seu objetivo já proclamado, “enfraquecer a Rússia”, na verdade sangrá-la, os Estados Unidos não economizam nos meios.