Na zona Sul de São Paulo, uma nova ocupação reivindica a garantia ao acesso à cultura para população. A Fábrica de Cultura do Capão Redondo foi tomada pelos aprendizes dos cursos que lá são oferecidos para cobrar da administração autonomia, transparência, reformas, manutenção e funcionamento dos projetos realizados neste espaço cultural.
Descrito pelos ocupantes como um “prédio branco, sem vida, em meio a casinhas humildes e atrás um córrego a céu aberto, esconde dentro de si uma gestão completamente desconectada da realidade material da comunidade em que está”, os aprendizes cobram também vistoria na estrutura e a pintura do imóvel.
A manifestação teve início de maneira espontânea no dia 24 de maio, quando os aprendizes passaram a pedir a volta do horário normal de funciomantosda biblioteca (reduzida em quatro horas). Após serem ignorados pela administração local e a pela POEISIS (organização social que controla o projeto), um grupo de aprendizes resolveu ocupar a Fábrica e gerir ela pelas próprias mãos. Desde então, a Fábrica de Cultura tem funcionado todos os dias com os próprios ocupantes ministrando as oficinas e cuidando da programação que inclui peças de teatro, aulas de cinema e política, e oficinas livres de troca de experiência entre os cursos.
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O movimento de ocupação aponta o corte de verbas como responsável pela redução do horário de funcionamento da Fábrica. Segundo os aprendizes, os cortes podem ainda acarretar em demissão de educadores, falta de investimento e fechamento de estúdios de vídeo e música.
Como represália ao movimento, os aprendizes da Fábrica de Cultura acusam a gerência da Fábrica e a POIESIS de “espalhar boatos pela comunidade e nas escolas” afirmando que a Fábrica está sendo destruída pelos ocupantes.
(atualizado 10/06/2016, às 16:55)
Em reposta as reivindicações feitas pelos aprendizes ocupantes a POIESIS encaminhou a seguinte nota:
O movimento de ocupação da Fábrica do Capão Redondo foi deflagrado, mesmo depois da POIESIS ter atendido ao pedido dos aprendizes para ampliar o funcionamento das bibliotecas em duas horas. Ou seja, passou das 17 para as 19h. Eles reivindicavam mais uma hora. Na última terça, dia 7, a organização concordou. Lembramos que dez horas é um período maior que o de qualquer biblioteca pública. Portanto, não é verdade que o funcionamento foi reduzido em quatro horas.
Ressaltamos que não há demissões na fábrica como os aprendizes estão dizendo. Há, sim, uma especulação sobre demissões que ocorreriam futuramente no espaço. Demissões, contratações e promoções são eventos rotineiros em qualquer tipo de empresa. Tanto que a Fábrica do Capão Redondo tinha em abril deste ano 61 funcionários, três foram desligados e um reposto. De lá para cá, nenhum empregado foi dispensado.
Observamos ainda que a ocupação se dá em apenas uma das dez Fábricas de Cultura da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e que o prédio do Capão tem apenas quatro anos de construção e se encontra em perfeito estado de conservação, manutenção e funcionamento.
O repasse que a organização recebeu para o projeto é o mesmo do ano passado.
Acrescentamos ainda que, em uma pesquisa de satisfação realizada no mês passado com as crianças e os jovens (aprendizes) que frequentam os cursos oferecidos pelas Fábricas de Cultura administradas pelas POIESIS (Jardim São Luis, Capão Redondo, Vila Nova Cachoeirinha, Brasilândia e Jaçanã), 98% afirmaram estar satisfeitos ou muito satisfeitos com as Fábricas. O resultado apresentado é consistente com os números de anos anteriores.