O clima é de colapso hídrico, e a culpa não é só do clima
A força da captura corporativa das águas é tão grande em nosso país que, mesmo quando explode um cenário drástico, os setores do agronegócio, da mineração e da infraestrutura energética e de logística a eles associada nem sequer são constrangidos na esfera pública a se responsabilizarem pelo papel que cumprem na captura, privatização, contaminação e devastação dos recursos
“Terra, planeta água” e “Brasil, país azul” são algumas imagens que reforçam como senso comum a ideia de que estamos envoltos em um contexto de fartura hídrica. Somos o país com a maior abundância de água doce do mundo. Temos em nosso território dois dos maiores aquíferos do planeta – o Guarani e o Sistema Aquífero Grande Amazônia –, e o maior rio do mundo em vazão, o Amazonas. Temos o Cerrado, a caixa-d’água brasileira, habitado em seu subterrâneo por três grandes aquíferos (o Guarani, o Bambuí e o Urucuia), responsáveis pelas nascentes da maioria dos rios cujas águas transbordam para abastecer nada mais, nada menos do que oito de nossas bacias hidrográficas. Temos ainda o Pantanal, maior área alagada do mundo, considerado Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco. Mesmo no Nordeste, somos reconhecidos internacionalmente pela potência do paradigma da convivência com o Semiárido por meio…