Atlantropa, o ancestral dos grandes projetos inúteis
A utopia da paz universal muitas vezes estimulou a imaginação de personalidades excêntricas e deu origem a projetos insanos, como o projetado pelo arquiteto alemão Herman Sörgel no fim da década de 1920, que impressiona pela ambição faraônica e sua fé ilimitada na tecnologia: criar artificialmente um continente eurafricano sob domínio europeu e secar parcialmente o Mediterrâneo
Com um monóculo sobre o olho direito, terno com colete e porte altivo, Herman Sörgel não parecia um palhaço. O nome desse arquiteto expressionista alemão, no entanto, permanece associado a uma das mais delirantes utopias energéticas e geopolíticas do século XX. Exposta publicamente no fim dos anos 1920, ela tinha como objetivo nada menos que secar parcialmente o Mar Mediterrâneo com a construção de uma série de barragens hidrelétricas gigantes nos estreitos de Gibraltar, Bósforo e Sicília, e na foz do Rio Nilo. E então o grande desejo de Sörgel se tornaria realidade: reunir a Europa e a África colonizada em uma única entidade geográfica e política batizada de Atlantropa. A ideia pareceu evidente ao arquiteto em 1927 quando ele leu uma obra de geografia que descrevia o Mediterrâneo como um mar de evaporação: se o Estreito de Gibraltar fosse obstruído, como foi o caso quando de movimentos tectônicos do…