Com pandemia, rever avaliação educacional se tornou urgente
Para especialistas é fundamental que a avaliação faça parte do processo pedagógico e que seja uma prática permanente
A retomada gradual das aulas presenciais nas escolas brasileiras, após nove longos meses de fechamento em razão da pandemia, traz consigo o enorme desafio de mitigar os prejuízos na aprendizagem de mais de 36 milhões de estudantes da Educação Básica no Brasil (Censo Escolar 2020). Para os especialistas em educação, gestores públicos e professores, a superação do problema passa por uma questão central: a avaliação educacional.
A avaliação possibilita que os educadores tenham um diagnóstico do nível de conhecimento dos alunos, monitorem o progresso no desenvolvimento dos estudantes, orientem seu trabalho e promovam intervenções pedagógicas, segundo o vídeo “Avaliação diagnóstica, formativa e somativa alinhada à BNCC”, lançado pela Fundação Lemann em outubro.
Para tanto, é fundamental que a avaliação faça parte do processo pedagógico e que também seja uma prática permanente no processo de ensino e aprendizagem. Assim, no contexto da pandemia, vem ganhando força a proposta de que a adoção de tais diretrizes acompanhe tanto a retomada das aulas presenciais, com uma avaliação diagnóstica, quanto o desenvolvimento dos alunos, com avaliações permanentes de caráter formativo e avaliações somativas entre 2020 e 2021.
Vale ressaltar que a construção deste processo de ensino e aprendizagem e de avaliação em um ciclo de dois anos segue a orientação do Conselho Nacional de Educação (CNE), assim como a recomendação de não reprovação de alunos em 2020, ambas especificadas no Parecer 15/2020.
Tudo começa pela BNCC
O desafio da avaliação em tempos de pandemia se coloca exatamente no ano em que as redes estaduais e municipais se preparam para a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Mas o que poderia ser visto como um agravamento de quadro está sendo interpretado por gestores públicos e especialistas como um caminho para ajudar a lidar com a necessidade de mitigar os danos de aprendizagem causados aos alunos pelo fechamento das escolas.
“Que bom que temos a BNCC! Se não tivéssemos a base, estaríamos num processo muito confuso, que ocultaria muitos direitos e objetivos de aprendizagens fundamentais”, afirmou Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) no “Webinário Internacional Fronteiras da Avaliação”. “A BNCC é o grande norte da avaliação neste momento, é o instrumento que garantirá que esta geração não tenha déficit de aprendizagem”, afiançou o especialista durante o evento, realizado pela Fundação Lemann em outubro deste ano.
Como parte da implementação da BNCC, é esperado que os estados e municípios apoiem as escolas na definição de como os alunos vão aprender determinadas competências e de como esse aprendizado deve ser aferido.
Em pronunciamento no mesmo webinário, Chico Soares, professor titular aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), destacou que a BNCC define o que se deve ensinar, mas sua implementação depende da compreensão e introjeção, por todos os atores envolvidos (secretárias, gestores escolares e professores), dos objetivos de aprendizagem nela propostos.
“A expressão pública dos objetivos de aprendizagem tem que fazer parte do vocabulário [dessas] pessoas. É preciso preparar e implementar discussões, tarefas e atividades que evidenciam e promovem o aprendizado, sair dos comandos gerais e ir para o específico [editado para clareza e concisão]”, disse.
Assista ao “Webinário Internacional Fronteiras da Avaliação”
Estratégias de recuperação pós-pandemia
Para além da avaliação, gestores públicos e escolares, professores e educadores em geral já discutem estratégias de recuperação das perdas de aprendizagem decorridas da paralisação das aulas presenciais.
Para Raquel Teixeira, especialista em educação, o planejamento para a incorporação deste tipo de estratégia ao trabalho das redes é fundamental, combinando de modo adequado itens de teste, exercícios avaliativos de reforço e recuperação para aqueles itens que se mostraram frágeis na avaliação. “Nós já temos que pensar desde agora esta avaliação diagnóstica atrelada a ações de recuperação, e isso não se faz isso da noite para o dia”, pontuou ela, durante o webinário “O desafio da volta às aulas”, realizado em maio pelo movimento Todos pela Educação.
Assista ao webinário “O desafio da volta às aulas”
Na percepção de Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (Ceipe/FGV), que também esteve no evento, é fundamental que a recuperação de aprendizagem ocorra “de forma sistemática, e monitorando as deficiências e como elas se recompõem, para não deixar ninguém para trás”.