Geopolítica da fome
Não surpreende que a falsa promessa de acabar com a fome por meio do aumento da produtividade agropecuária nunca tenha se cumprido. Verdade seja dita, desde a consolidação do setor agroindustrial, a fome continuou crescendo. Dados da FAO revelam que, antes da pandemia, uma em cada quatro pessoas no mundo passava fome: quase 2 bilhões de pessoas
No início do século XX, as duas grandes guerras explicitaram a importância estratégica dos alimentos para os Estados nacionais. Como em outros conflitos armados, a pilhagem de alimentos dos países ocupados foi acompanhada de estratégias como bloqueios navais e cercos militares para debilitar a disponibilidade de alimentos dos inimigos. Não se tratava apenas de prejudicar os suprimentos alimentares das forças militares, mas de utilizar os alimentos como armas de guerra também contra os civis, provocando o caos em território inimigo. Por essa razão, somente na Segunda Guerra Mundial pelo menos 20 milhões de pessoas morreram de fome e doenças associadas à má nutrição, cifra similar aos 19,5 milhões de militares mortos.1 É nesse contexto que emerge a noção de segurança alimentar. Proveniente da terminologia militar, ela constituiu parte importante das estratégias de defesa dos Estados direta ou indiretamente envolvidos nesses conflitos. Porém, terminada a Segunda Guerra, essa noção passou a servir a novos propósitos. Em um período de intensa disputa por áreas de influência política, econômica e militar entre os blocos capitalista e socialista, os Estados Unidos souberam explorar o papel estratégico dos alimentos em sua busca pela…