1964: O golpe que marcou a ferro uma geração

Não se engane quem abrir esse livro ao acaso e encontrar reminiscências juvenis e até momentos de humor. O autor me confessou que doeu escrevê-lo, como costuma acontecer com as boas obras. Foram dois anos escarafunchando na memória e buscando penetrar em temas muitas vezes difíceis de abordar. Mas também de muita pesquisa, em algumas dezenas de livros e outros tantos artigos sobre o Brasil dos anos que vão da renúncia de Jânio Quadros (1961) ao atentado no Riocentro (1981). Assim, a partir da história que viveu e sofreu, ele traça um retrato que é de toda uma geração.

O resultado é um excelente panorama sobre esse período. Num texto que se lê com prazer, quase de um fôlego só, Medeiros Filho consegue tratar de aspectos essenciais à compreensão dos anos da ditadura. Por que o presidente João Goulart foi deposto em 1964? Qual foi o papel dos Estados Unidos no golpe de Estado? Por que a juventude brasileira pegou em armas? Paralelamente, vão surgindo as transformações pelas quais passou o país nesses vinte anos. Do “milagre brasileiro” e suas grandes obras de engenharia à crise da dívida, hiperinflação e desemprego. Da censura e repressão à minissaia, festivais de música, pornochanchadas e crescimento da televisão.

Com notável poder de síntese, o autor constrói uma obra de fácil apreensão, mas que é também profunda em temas específicos. Pode ser lida por jovens interessados em compreender melhor o país de seus pais e avós e descobrir como isso se expressa no Brasil de hoje. Nesse sentido, será importante como material de apoio a professores. Mas também poderá ser útil aos interessados em aspectos ainda pouco explorados das tendências de esquerda dos anos 1960 e 1970. E aqui me refiro às organizações marxista-leninistas que se opuseram tanto ao PCB quanto à opção pela luta armada, fugindo assim das duas grandes correntes que ditaram o debate de esquerda na chamada geração de 68. Leia trechos do livro em <http://golpe1964.blogspot.com.br>.