A BATALHA DA MÍDIA

Há um movimento recente na América Latina em direção ao aprofundamento da democracia. Não é um fato novo na história do subcontinente. Em meados do século passado, processo semelhante foi abortado por intervenções militares com respaldo da grande mídia. A novidade desta retomada é a percepção de que para evitar um novo retrocesso é preciso relativizar o papel exercido sobre as sociedades pelos grandes meios de comunicação, contendo-os em novos marcos legais e, ao mesmo tempo, oferecendo ao público canais informativos sintonizados com o processo em curso.
O professor Dênis de Moraes foi atrás desse movimento. Viajou pela América Latina e nos traz um relato e uma análise cuidadosa do que está ocorrendo. Mostra, por exemplo, os esforços dos governos da Bolívia e da Venezuela na criação de jornais, rádios e emissoras de TV capazes de fazer frente à mídia hegemônica. Da Argentina e do Equador, revendo as suas arcaicas legislações de radiodifusão. E do Brasil, estimulando a produção popular do audiovisual e criando uma TV pública nacional.
A análise teórica desse movimento, realizada pelo autor, é também uma retomada. Depois de mais de duas décadas esquecidas, eis que nos reencontramos com as ideias de Gramsci, instrumental imprescindível para os estudos comunicacionais.
A discussão sobre a exploração das brechas no sistema hegemônico de comunicação, tão em voga nos anos 1980, sofria claras limitações quando confrontada com a realidade. Para superá-las tornava-se necessário a construção de um novo bloco histórico, conceito gramsciano preciso para identificar as ações midiáticas dos governos populares latino-americanos.
O livro, ao nos revelar essa nova etapa na luta pela hegemonia na America Latina, será valioso para quem queira se inteirar melhor do que está ocorrendo neste momento em nossa região. Mas é também importante para aqueles que estão em busca de instrumentais mais consistentes para analisar  fenômenos da comunicação social, entregues nas últimas décadas a teorias frágeis e reducionistas.