A finança capitalista
O livro tem o grande mérito de conferir ao termo finança um conteúdo classista, identificando-o às frações da burguesia que atuam na esfera financeira e interferem diretamente na luta de classes mundial. As reflexões da obra compartilham o esforço de resgate da formulação de Marx, principalmente as categorias de capital portador de juros e capital fictício, como ponto de partida para a interpretação de nossa realidade. Há consenso entre os autores de que a fração capitalista da finança é essencial para o desenvolvimento (impulsionando a concorrência) e sustentação (elevação da extração de mais-valia) do capitalismo mundial, gerando contradições com outras frações da burguesia e acirrando o antagonismo com a classe trabalhadora.
Suzanne de Brunhoff aporta uma reflexão sobre o papel das finanças na concorrência capitalista e o desdobramento desse processo na geopolítica mundial e no embate com a classe trabalhadora. Já François Chesnais analisa como a finança exerce influência e poder nas demais frações da burguesia (fixação de padrão de rentabilidade e uso do poder derivado da propriedade privada na forma acionária) e na classe trabalhadora (ajuda a instaurar a concorrência mundial entre os trabalhadores).

Gérard Duménil e Dominique Lévy encaram a finança como a fração superior da classe capitalista e suas instituições financeiras. Tal fração reconcentrou o poder fragmentado pela divisão entre gestão e propriedade na grande empresa capitalista, permitindo uma nova fase histórica hegemônica dessa fração, o neoliberalismo, marcada pela grande concentração de renda e expansão do capital fictício. Já Michel Husson ressalta como a lógica da finança interfere na racionalidade das demais frações, propondo uma interpretação da dinâmica econômica mundial dominada pela finança, em que o aumento dos lucros não encontra correspondência na elevação das taxas de acumulação.
O livro é uma obra imperdível para o debate do capitalismo atual e suas alternativas.