A IDEIA DE JUSTIÇA
Logo nas primeiras linhas de A ideia de justiça, Amartya Sen apresenta o elemento axial de sua teoria: não é o desejo pela sociedade ideal que impulsiona os indivíduos a buscar justiça, e sim a percepção de “injustiças manifestas” que podem ser vencidas. A obra, escrita por esse economista indiano que já ganhou um Prêmio Nobel por sua contribuição à economia do bem-estar social, flui através de argumentos que conjugam filosofia política, economia, direito e até mesmo antigos conceitos da língua sânscrita. Áreas que dialogam entre si para compor o mosaico de uma ideia que é tão popular quanto complexa: justiça.
O livro é dedicado à memória de John Rawls, cuja concepção de “justiça como equidade”, exposta inicialmente na obra A Theory of Justice [Uma teoria sobre a justiça], reacendeu o debate sobre o tema na filosofia política e se tornou leitura indispensável a todos os interessados na área. Influenciado pela teoria formulada por Rawls, que foi seu professor e posteriormente colega em Harvard, Amartya Sen reavalia as teorias de justiça de matriz contratualista. Sen destaca entre essas teorias o problema da factibilidade – caracterizam as instituições perfeitas ao arranjo social justo, mas ignoram a influência do comportamento humano – e o problema da redundância – desconsideram que a fundamentação das razões de justiça pode ser plural.
Ocupado em discorrer sobre uma ideia – e não sobre um ideal – de justiça, o autor debruça-se sobre as injustiças reais do mundo contemporâneo e afirma que “a justiça está fundamentalmente conectada ao modo como as pessoas vivem e não apenas à natureza das instituições que as cercam”.
A teoria proposta por Amartya Sen ainda se diferencia das que predominam na filosofia política porque se propõe a servir como base de argumentação racional no domínio prático, oferecendo modos de julgar como reduzir a injustiça e promover a justiça. É um libelo à humanidade tanto quanto à racionalidade, além de ser um instigante convite à reflexão.