A “Nova Classe Média” no Brasil como conceito e projeto político
A nova classe média, mais que um conceito sociológico, tornou-se moeda corrente para legitimação dos ganhos sociais durante o governo Lula, legado que acompanha o mandato de Dilma Rousseff. Além de uma estratégia de marketing político, estabeleceu um ideário que se conjuga aos anseios do mercado de serviços e bens industriais, grande chave mestra do crescimento econômico do período de 2007-2012. Unida ao desejo coletivo de bens e serviços propagado pela mídia, a nova classe média teve assim seus alicerces firmados na ampliação do mercado de consumo. Contudo, essa realidade está longe de ser o fundamento do que sociologicamente poderia se chamar de classe média, cujas bases estariam na capacidade real de acesso a serviços – públicos ou privados –, na estabilidade profissional e no controle do capital cultural que garanta a reprodução dessa situação social, perspectiva ainda longe da realidade da maioria dos integrantes da heterogênea “nova classe média”.
Essa leitura constitui o debate central percorrido na análise dos catorze artigos que compõem a obra publicada pela Fundação Heinrich Böll no Brasil, organizados por seu diretor Dawid Danilo Bartelt. Assim, as Jornadas de Junho, mesmo que não tenham sido o objetivo de análise dessa obra, acabaram se tornando um fato explicativo das limitações do projeto político alicerçado nessa categoria que serviu para legitimar as transformações sociais do Brasil no último decênio. Mais que consumo, as massas na rua reivindicaram que “não é por 20 centavos, é por direitos”.

Com a contribuição de vários pesquisadores e representantes de entidades civis, a obra se destaca como leitura essencial no debate político, econômico e sociológico do Brasil de hoje. Distante do ideal da classe média tradicional, esse segmento que emerge da “ralé” aos “batalhadores”, como destaca Jessé de Souza, é um campo aberto para intervenção política e análise, longe de estar encerrado.