A NOVA ORDEM ECOLÓGICA – A ÁRVORE, O ANIMAL E O HOMEM
O premiado ensaio de Luc Ferry, filósofo e ministro da Educação da França entre 2002 e 2004, introduz o debate sobre o contexto dos movimentos ambientalistas da atualidade e suas raízes filosóficas modernas, pelo relato de casos que chegam ao absurdo.
No século XVI, na França, houve processos movidos pela Igreja Católica contra insetos, golfinhos e até uma colônia de sanguessugas, da qual três espécimes compareceram ao tribunal em um pote de vidro para ouvir as acusações e seu direito a ampla defesa. Como não se manifestaram, foi designado um promotor para sua representação. O processo acabou com a condenação dos hirudíneos, que foram excomungados e amaldiçoados pelo eclesiástico local.
Apesar de parecerem fábulas, o autor usa de relatos de época para levantar a questão central de seu livro: a separação do homem e da natureza e a criação do conceito de humanismo, que deixou de atribuir direitos ao que não é humano.
Ferry põe em contraposição o elogio ao romantismo da Idade das Luzes, encabeçado por Rousseau, com o utilitarismo cartesiano, que enxergaria a natureza como objeto à disposição das necessidades da humanidade.
A partir daí, o autor desenvolve de forma bastante clara os três vieses da ecologia moderna: o antropocentrismo, no qual a natureza tem uma relação de causa e efeito (o homem deve cuidar do meio ambiente, sob risco de afetar sua própria existência); o utilitarismo, pregando a defesa da natureza como objeto, mas sempre que possível o uso humano deve valorizar o mínimo de sofrimento; e o biocentrismo, que confere ao que é natural uma essência intrínseca para além da separação de humano e não-humano.
Mais que traçar um panorama, Ferry mergulha nas entranhas dessa nova ordem ecológica, em uma obra que lhe rendeu os prêmios Jean-Jacques Rousseau e Médicis de melhor ensaio. Certamente é um livro para quem quer entender as origens do pensamento daqueles que abraçam lagoas ou interceptam navios baleeiros.