Apartamento 34

O apartamento 34, em São Paulo, era morada de jovens decididos a participar da resistência à ditadura. Era também lugar de riso e amorosidade, de encontro de amigos que se aproximavam para buscar um espaço afetivo, ambiente de diálogos, articulações políticas e vivências culturais. O livro traduz literariamente um momento dramático de nossa história, com uma subjetividade jovem emergente que dialogava a todo momento com a política, o compromisso histórico e seu imaginário febril; ali se presenciavam as primeiras decisões existenciais autônomas dos meninos e meninas que saíram da adolescência para a luta contra a ditadura; o primeiro amor na clandestinidade; os dilemas do ser mulher; a fuga. Tudo contextualizado num cenário vivo e singular da existência, mesclado com tortura, perseguição e morte. O livro também recupera as pequenas lutas e trabalhos educativos nos bairros e fábricas, os clubes de mães, os movimentos contra o custo de vida, pela anistia e as diretas, protagonizados por aqueles que se sentiam “donos de seu destino e queriam participar da história”. O autor mostra como os jovens vão tecendo os fios de outro mundo, sem saberem exatamente o que emergirá, mas que resulta na construção participativa e democrática que marcará o cenário contemporâneo. E essas marcas da época tornaram-se referências de outras possibilidades de mundo. Assim, o educador-romancista constrói uma trama fina, com emoção e surpresas, sempre com a certeza de que as escolhas valeram a pena. É natural que se estabeleça uma tensão entre o educador e o literato. Este, desejoso de libertar-se da pedagogia do texto para viajar ao mistério da linguagem literária. Aquele, tentando livrar-se da poética do texto para encontrar o cerne dos acontecimentos políticos. Tarefa difícil, construída passo a passo com a experiência de um estudioso da época que vivenciou os dramas da ditadura, e do homem sensível à arte e à vida.