Apologia dos bárbaros – ensaios contra o império


     “O Anti-Bush definitivo será inevitavelmente um clone de Bill Clinton, que prometerá a rápida (mas não imediata) retirada do Iraque e a revogação parcial dos egrégios donativos fiscais de Bush para os super-ricos. Além disso, as ‘fritas da liberdade’ poderão voltar a ser francesas, e os aliados poderão ser consultados ocasionalmente a respeito dos alvos a serem bombardeados. O que se afigura até novembro, então, é a desestimulante opção entre o ‘superimperialismo’ bushista e o ‘imperialismo normal’ do status quo democrata.”
    A análise, feita em 2004 pelo historiador e militante socialista Mike Davis, bem poderia ser aplicada ao atual processo eleitoral estadunidense. Embora o “fator Obama” tenha acrescentado algum suspense à disputa, no essencial é isso mesmo. Tanto Obama quanto Hillary preconizam a volta aos bons tempos de Bill, quando os Estados Unidos podiam bombardear instalações farmacêuticas de países miseráveis como o Sudão, em agosto de 1998, mas mantendo o cândido sorriso de um colegial em paz com a própria consciência.
    Se a análise feita por Davis se mantém tão atual e exata quatro anos depois, não é simplesmente porque a medíocre mesmice tomou conta do jogo partidário estadunidense. É, sobretudo, porque Davis tem uma compreensão profunda da história, da política e da cultura de seu país, como pode ser facilmente notado logo no início da leitura dos 44 artigos e ensaios escritos por ele, entre 2001 e 2007, agora reunidos neste livro.
    Racismo, desemprego, movimentos da juventude pobre, decadência cultural de uma sociedade corrompida, instituições públicas destruídas pelo neoliberalismo – o texto ácido e muito bem articulado de Davis revela um EUA monstruoso (razão pelo qual, aliás, seus adversários costumam qualificá-lo como “apocalíptico”). E o leitor ganha uma série e charges feitas pelo premiado Carlos Latuff, sobre os temas abordados por Davis, além de ser esclarecido, em nota de rodapé, sobre o significado da misteriosa expressão “fritas da liberdade”.