Artista do mês: Raphael Salimena

Este mês eu bati um papo com o quadrinista Raphael Salimena, autor do blog Linha do Trem (www.linhadotrem.com.br).

Como você entrou no universo dos quadrinhos?
Quando criança, eu era um consumidor ávido de HQs de super-heróis e tiras de jornal. Desde essa época eu já queria trabalhar com isso. Daí procurei aperfeiçoar meu desenho para poder fazer quadrinhos da melhor maneira possível e no final da faculdade consegui um trampo de ilustrador do jornal local, onde comecei a fazer as tiras do Linha do Trem para ocupar o tempo livre. Aos poucos o público foi aumentando e foram surgindo os convites para publicação, entre eles o do Raphael Fernandes, editor da MAD, onde eu comecei a carreira profissional de fato.
Existe algum tema que você evita abordar em suas tiras?
Não curto muito mexer com figuras públicas, políticos e coisas do tipo, porque as pessoas pegam aquela piada e usam como discurso depois, como se aquilo fosse “certo” ou “errado”, e vira munição para um “lado”. Se você faz uma piada com a Dilma, vira material do PSDB, e vice-versa. Uma coisa maniqueísta, fora de contexto, e o nosso trabalho pode contribuir para o esvaziamento dessa discussão que já é tão rasa. Eu quero passar o mais longe disso que eu conseguir.
Você se autocensura?
Desde que recebi um puxão de orelha do Laerte por causa de uma piada de gorda, comecei a pensar se aquilo era o que eu realmente queria com meu trabalho e foi fácil ver que não era. Não acho que a piada que eu fiz valia mais que o sofrimento de ninguém e não quero usar minhas tiras para perpetuar estereótipos que a humanidade já devia ter ultrapassado. Como só tenho feito tiras de tecnologia ultimamente, estou mais preocupado em torná-las compreensíveis para o maior público possível. Estou trabalhando também em uma série autoral que envolve humor, humor nonsensena maior parte do tempo. Creio que há algumas maneiras de fazer rir sem ofender e quero testar isso o máximo possível. Então não chega a ser uma autocensura, já que esse humor “metralhadora giratória” é algo que eu parei de fazer com naturalidade. Não tenho esses momentos “será que vai dar merda se eu publicar isso?”, o que agradeço imensamente ao Laerte.
Luciana Foraciepe é apaixonada por quadrinhos desde sempre. Mais conhecida como criadora da página Maria Nanquim e editora da revista Xula, se define numa frase do personagem Calvin, de Bill Watterson: “A realidade continua atrapalhando a minha vida”