As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres

A pesquisadora Ana González nos conta uma história da criação do Dia Internacional das Mulheres bem diferente da história mais repetida nos movimentos feministas.
Em parte de seus 100 anos, a data que simboliza as lutas e conquistas das mulheres por sua libertação, autonomia e igualdade carregou uma lenda como origem.  Agora sabemos que não, o 8 de Março não teve início naquele episódio de um incêndio numa fábrica, com a morte de muitas trabalhadoras têxteis.
A minuciosa pesquisa de documentos realizada por Ana Isabel Álvarez González reconhece a existência de tal incêndio, seguido por mortes e greve, mas demonstra que a criação do 8 de Março teve outra origem, em outro lugar, outra data, por iniciativa de outras mulheres.
O livro ilumina personagens – mulheres socialistas e comunistas –  que tomaram iniciativas no sentido de criar a data e a legitimaram em suas organizações, por dentro das quais poderiam de imediato operar sua continuidade.  A pesquisadora localizou e estudou a documentação sobre  o Woman’s Day organizado pelas socialistas nos Estados Unidos; sobre a aprovação do dia internacional na Segunda Conferência de Mulheres Socialistas, em 1910, em Copenhague,  por iniciativa de Clara Zetkin; e ainda sobre a fixação da data de 8 de março, anos depois, para relembrar a ação das mulheres nos acontecimentos que foram considerados estopim da revolução de fevereiro de 1917, na Rússia.
A autora aponta com propriedade os elementos de tensão, em todo o processo, entre a perspectiva feminista socialista e a visão mais geral da esquerda, além do esforço das socialistas e comunistas pela demonstração de que a luta das mulheres não ameaça os objetivos do proletariado e, sim, os reforça.
O livro registra com justiça a importância de Clara Zetkin e Alexandra Kollontai no processo e anexa textos delas, que nos permitem melhor reverenciá-las, ainda que à distância de um século.