CAMINHOS CONVERGENTES
Nesta primeira década do séc. XXI, temos assistido à ampliação do debate sobre ação afirmativa para negros e pobres no Brasil, o que não implica, necessariamente, aprofundamento do tema. Intelectuais e adversários de tal medida têm fundamentado parte de sua argumentação na premissa de que, no país, negros e brancos convivem de modo tão harmonioso que não seria relevante tocar na questão da origem étnico-racial quando falamos em desigualdades socioeconômicas. Esquecem que, como demonstra Ricardo Henriques, no Brasil o pertencimento racial ainda tem peso significativo na explicação dessas desigualdades.
O livro – uma coletânea de nove artigos produzidos por estudiosos de diversas áreas – contribui não só para ampliar esse debate, como também aprofundá-lo, oferecendo ao leitor um panorama das que foram consideradas as principais políticas públicas para a redução das disparidades raciais, em curso no país. Com a leitura dos textos, o leitor será informado do contexto histórico e político que favoreceu a inclusão da questão racial na agenda formal; dos atores envolvidos no processo, com especial destaque aos movimentos negros, como protagonistas, e talvez da grande mídia, como antagonista; do processo de formulação das políticas e das dificuldades e desafios à sua implementação.
Uma preocupação presente em grande parte dos artigos diz respeito à continuidade da ação pública nos planos federal, estadual e municipal. Os autores reconhecem que – após muitos anos de relativa inação e, especialmente, após a Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, promovida pela ONU em Durban (2001) – o Estado brasileiro vem se movimentando no sentido de atender demandas antigas da comunidade afro-brasileira. Enfatizam, no entanto, a necessidade de articulação entre as diferentes iniciativas e da definição de programas mais duradouros, “cujos impactos possam ser medidos em médio e longo prazo e que contribuam para a promoção de uma efetiva agenda de igualdade racial no Brasil”, como fica registrado já na introdução da obra.