CAPÍTULOS DE HISTÓRIA DO IMPÉRIO

A publicação dos escritos inéditos de Sérgio Buarque de Holanda é uma boa oportunidade para refletir sobre a produção historiográfica no Brasil e a história política do Império. O autor em questão sempre se destacou por seu estilo narrativo, erudição e preocupação com a totalidade e o particular nos processos históricos. Dentre sua produção acadêmica, mereceu relevo a organização da coleção História Geral da Civilização Brasileira, iniciada na década de 1960, em colaboração com diversos historiadores renomados – o volume dessa obra intitulado Do Império à República (editado em 1972), porém, foi de sua exclusiva autoria. Nele, se descortinou a história política das três últimas décadas do Império, período assinalado pela crise do regime monárquico. Mas depois de concluí-lo, o historiador achou necessário aprimorá-lo e, perseguindo esse objetivo, redigiu os textos reunidos no livro Capítulos de história do Império, que ainda conta com prefácio e posfácio de dois especialistas de peso: Fernando Novais e Evaldo Cabral de Mello.
O conjunto de textos, apesar de inacabado, não deixa de ser conclusivo sobre o objeto de estudo de seu autor: a política no Segundo Reinado. Trata-se de uma síntese de sua visão do sistema político e da elite imperial, abrangendo um período histórico mais amplo que o explorado na obra Do Império à República. Na perspectiva de Sérgio Buarque, o Segundo Reinado foi politicamente marcado pela instabilidade, com exceção da década de 1850, além de excludente quanto à cidadania. Do ponto de vista social e econômico, foi caracterizado pelo atraso, em vista do apego da maioria de suas elites à escravidão, em plena Era das Revoluções. Já Dom Pedro II, que governava e não apenas reinava, o fazia quase sempre “no sentido de moderar, de imobilizar e até de quebrantar as reformas mais importantes para a modernização do país”. Ao final desse livro, o leitor, com certeza, pouco ou nenhum saudosismo terá do passado imperial brasileiro.