COMUNICAÇÃO E CONTRA-HEGEMONIA
Existem livros pertinentes para cada época, e esse é, sem dúvida, o caso de Comunicação e contra-hegemonia. Em um fim de ano marcado por atos, seminários e audiências públicas, em várias capitais, pela democratização da comunicação e com a perspectiva de uma conferência nacional sobre o tema, Eduardo Granja Coutinho reúne 12 artigos que ajudam a pensar um projeto de sociedade que nos aponte um horizonte mais amplo do que o proposto pela ideologia hegemônica vigente.
Ao mesmo tempo, Coutinho nos faz entender como a mobilização pela conferência nacional é apenas uma braçada da travessia oceânica que nos desafia. Nesse sentido, o grande mérito do livro é mostrar que, embora crucial tanto para forjar quanto para desconstruir nossa realidade, a comunicação não está isolada da sociedade estruturada pela lógica esquizofrênica do sistema capitalista.
Dessa forma, os diferentes artigos organizados pelo professor acabam por dialogar sobre os conceitos de hegemonia e contra-hegemonia, e por esse motivo o nome de Gramsci é citado inúmeras vezes. O compêndio não é, entretanto, uma manifestação monolítica do pensamento marxista. Embora, já na introdução, Coutinho deixe clara sua antipatia pela iconoclastia pós-moderna, sua promessa de que a seleção zelou pela expressão de posições divergentes é cumprida. Só assim é possível considerar a lucidez de Rodrigo Dantas – ao recordar que a fabricação do consenso se dá menos pela mídia do que pelas relações sociais de produção, propriedade e poder –, e entender a ponderação de Ana Enne – que frisa como a riqueza do processo social nos obriga a enxergar a mídia para além da alienação e da manipulação.
Os 12 trabalhos são perpassados pela certeza de que a contra-hegemonia é a semente capaz de criar, como lembra Dantas, a classe da consciência. Da verdadeira compreensão sobre a realidade, deverá surgir a comunicação que rejeita os maniqueísmos ideológicos e manipuladores. Como afirma Raquel Paiva, só faz sentido acreditar na movimentação contra-hegemônica se esta não ambicionar o lugar do sujeito hegemônico.