Corrupção e sistema político no Brasil
Os nove artigos que compõem o livro têm como fio condutor a análise do fenômeno da corrupção à luz do sistema político brasileiro, por meio da análise do papel das instituições estatais de controle e da cultura política nacional.
Grande parte dos textos analisa os resultados da pesquisa de “opinião pública” sobre “A corrupção e o interesse público”, desenvolvida pelo Centro de Referência do Interesse Público (Crip) da UFMG e aplicada pelo Instituto Vox Populi em 2009.

Como um todo, o livro concede grande poder explicativo às pesquisas de opinião, tomadas como método científico de compreensão da corrupção, decorrendo daí análises distintas acerca do problema, tais como a relação com a “governabilidade”, a “democracia”, as “instituições”, os “valores republicanos”…
Embora vários artigos tenham contribuição importante a dar naquilo a que se propõem, a não problematização dos alcances e limites das pesquisas de “opinião pública” – conceito este per se altamente controvertido – abre flancos na própria concepção do livro, pois não relativiza os espaços e a complexidade entre opinião e comportamento.
A qualidade teórica dos artigos é bem distinta, mas um deles merece leitura atenta por sua capacidade analítica e pelo esforço conceitual: “Sociedade civil e corrupção: crítica à razão liberal”, de Juarez Guimarães. O autor, ao analisar as matrizes do polissêmico conceito de “sociedade civil” – controverso como “opinião pública”, “interesse público” e afins – em sua relação com o combate à corrupção, afirma: “Conceitos são como sinais luminosos que conectam discursos argumentativos, os quais, por sua vez, racionalizam e legitimam a práxis dos atores políticos, podendo alcançar diferentes graus de influência e de sedimentação nas culturas políticas e instituições” (p.83).
Sem tais conceituações, as gramáticas que levam à compreensão do problema tornam-se difusas, sobretudo quanto ao tema da “cultura política”, visto por vezes como manifesto na opinião “pública”. Em verdade, tais gramáticas parecem provir das estruturas econômicas e políticas do passado e reproduzidas, com outros contornos, no presente, apesar dos inúmeros avanços institucionais observados.