Do Bugre ao Terena
Cerca de 8 mil pessoas do povo Terena vivem hoje em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Expulsos da região oeste do estado pelo violento processo de colonização e sem nenhuma possibilidade de retorno para suas terras tradicionais, os Terena resistem ao racismo da cidade ocupando diferentes postos de trabalho, falando sua língua e mantendo aspectos da sua cultura.
Como um dos principais traços dessa resistência, ao som de tambores e flautas um grupo Terena realiza a Dança da Ema, na capital sul-mato-grossense. No meio urbano, a dança tradicional constitui um mecanismo político de afirmação cultural e reflexão ante as transformações sócio-históricas.
Do bugre ao Terena questiona o olhar preconceituoso do não índio. Por meio do cotidiano e das trajetórias de alguns Terena, a produção revela diversas apropriações da cidade, assim como maneiras de lidar com o preconceito e afirmar sua identidade por meio da dança.
O documentário discute também a “cultura do terror”, em que os indígenas são igualados a coisas e perseguidos com base em um racismo fenotípico da aparência de bugre. Apesar disso, no contexto urbano, ao contrário do que a expressão “bugre” sugere, a identidade étnica do Terena não deixa de existir. O termo “bugre”, carregado de preconceito e discriminação, é utilizado para referenciar, do ponto de vista dos não índios, o produto da relação entre o índio e o não índio: um “civilizado”, mas de segunda categoria. Essa expressão é utilizada simbolicamente no título do documentário.
O filme tem apresentações na TV Brasil e pode ser visto no Vimeo ou no YouTube
Renato Santana é jornalista e indigenista