Do capital financeiro na agricultura à economia do agronegócio
O livro é leitura obrigatória para quem quer entender a origem do poder do agronegócio e seu atual papel não somente na agricultura, mas, sobretudo, em relação às perspectivas de desenvolvimento do Brasil. Vale a pena começar pelos últimos dois capítulos, que abordam a chamada fase de reestruturação da economia do agronegócio e os limites ao desenvolvimento desse processo, e depois ler os capítulos que retomam a análise do modelo neoliberal e da modernização conservadora no regime militar.
A tese principal do autor é que o Brasil dos governos FHC II, Lula I e II e Dilma teria retomado o modelo de agroexportação, com características muito parecidas às da estratégia do período militar: uma articulação do grande capital agroindustrial com o sistema de crédito público à agricultura fundiária ancorada em um pacto de interesses hegemônicos de classes sociais, inclusive com presença no interior do aparelho do Estado.

A inflexão de FHC, depois de anos de desmonte e descaso com o setor, é analisada como uma resposta ao constrangimento externo causado pelo impacto da crise financeira de 1999. A agroexportação deveria salvar as contas externas. Essa estratégia encontrou grande respaldo na alta dos preços de commodities, gerando, na década de 2000, a ilusão de uma solução estrutural ao desequilíbrio externo. Mas a consolidação desse modelo traria consigo mais concentração fundiária, superexploração de recursos naturais (com crescente uso dos agroquímicos) e dependência externa, ou seja, retomaria um padrão de subdesenvolvimento já mais do que exposto por Celso Furtado.
O autor não analisou os esforços, a partir do governo Lula, para apoiar, além do agronegócio, a agricultura familiar. Questões que ficam em aberto são: seria possível aproveitar a expansão das commodities sem restringir-se à especialização primária? Existe necessariamente uma relação entre o crescimento desproporcional do agronegócio e a perda de competitividade da indústria brasileira? Somente um desaquecimento da demanda internacional e uma retração da liquidez forçaria o Brasil a buscar outros caminhos?