DOS FILHOS DESTE SOLO
Mais que oportuno o lançamento da segunda edição, revista e ampliada, de Dos filhos deste solo, livro de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio que veio a público, pela primeira vez, em 1999. Trata-se do mais completo dossiê dos crimes cometidos pela ditadura militar, com a particularidade de que a classificação dos casos está relacionada às organizações de esquerda em que militavam os mortos e desaparecidos políticos. Baseia-se fundamentalmente no trabalho da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), criada pela Lei 9.140, de 1995.
Seus autores explicam que as mudanças na lei, ocorridas em 2002 e 2004, reabrindo prazos, ampliando seu período de abrangência e os tipos de casos passíveis de reparação (com a inclusão, por exemplo, de mortes resultantes da Operação Condor), tiveram efeito tão positivo na atividade da CEMDP que justificam a nova edição.
O fato é que ela surge em meio à intensa movimentação de familiares de desaparecidos e de ex-presos e perseguidos políticos, com apoio de setores do governo federal e do Ministério Público Federal, em prol da punição dos agentes públicos que, a serviço da ditadura, torturaram, assassinaram e, em muitos casos, ocultaram os corpos das vítimas. Por outro lado, a nova edição contrasta com a onda de revisionismo histórico liderada por herdeiros e admiradores da ditadura, que pretendem diluir as atrocidades por ela cometidas.
Ora, a leitura das 708 páginas de Dos filhos deste solo é definitiva. Não há como não se indignar diante da covardia e iniquidades praticadas contra os opositores do regime militar. Casos como os de Nilda Carvalho Cunha, assassinada pela repressão política aos 17 anos, e sua mãe Esmeraldina, encontrada enforcada em casa, em 1972, aos 50 anos, depois de “revirar céu e terra” para esclarecer a morte da filha. Ou o de Lourenço Mesquita, suicidado no vaso sanitário de uma cela da Polícia do Exército, no RJ, em julho de 1977. Seriam tais horrores irrelevantes?