Elogio à preguiça
Pode ser numa cidade média qualquer. Centenas de milhares de trabalhadores saem de ônibus, metrôs ou trens sem saber em que exatamente dissiparam suas forças de trabalho: operários, engenheiros, professores, corretores, ou seja, as poucas atividades em que se podem dedicar, no mínimo, oito horas diárias. É fim do dia. Apressam-se para… Comer, assistir a um pouco de televisão, dormir (comprar qualquer coisa, quando possível) – para que, no dia seguinte, tudo recomece.
Elogio à preguiçatrata de um tema pouco abordado ao longo da história, uma vez que é tido não só como pecado, mas, a partir da modernidade, como pecado contra o capital, ou seja, contra as noções de progresso, normatização, controle, eficiência, consumo etc.

Para além do folclore, trata-se de abordar a preguiça como positividade e resistência, sob diversos aspectos: vida interior, sua construção e fruição; devaneio; ação destituída de finalidade; pensamento em oposição à ação célere; lentidão como aprendizado; simples prazer do ócio – enfim: serem lugar de terou parecer.
Uma coletânea de ensaios filosóficos que exploram diversos aspectos do tema, como a preguiça na Antiguidade grega, que mais do que condenava o trabalho: ignorava a ideia de “trabalho” – por Francis Wolff; o clássico escrito por Paul Lafargue em 1880, de que se cita: “Todas as misérias individuais e sociais dos operários foi o que fizeram por merecer com sua paixão pelo trabalho” – por Marilena Chaui; Sócrates, Montaigne e Machado de Assis, que escreveu: “Na vida, o olhar da opinião, o contraste de interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos” – por José Raimundo Maia Neto; um Rousseau pouco conhecido, que, misantropo, caminhava devaneando – por Franklin Leopoldo e Silva; o ócio durante o Iluminismo, em cuja Encyclopédiese lê-se que o trabalho é a “ocupação diária à qual o homem está obrigado para satisfazer suas necessidades” – por Sergio Paulo Rouanet; a relação entre preguiça e sexo, ilustrada pelo livro pouco conhecido: Rosa ou a felicidade dos homens, de autoria de Maurice Pons – por Jorge Coli; e a figura do malandro no samba – por Maria Rita Kehl.