Idéias Vivas / Filosofia

O título Ideias Vivas da nova coletânea da Martins Fontes pode trazer a mensagem de que as ideias ali publicadas são tão contemporâneas quanto na época em que foram escritas. E não é da noção de um tempo elástico que vivem os filósofos? No entanto, sua contemporaneidade nos interessa na medida em que apresenta elementos que nos ajudam a pensar os problemas atuais.

 Os primeiros livros desta coletânea resgatam três filósofos: Sêneca (Sobre os enganos do mundo), Plutarco (Como distinguir o amigo do bajulador) e Pascal (Diversão e Tédio), que pouco estudados nos cursos de filosofia no Brasil, foram selecionados agora com objetivo de aproximar textos clássicos de leitores não tão especializados. Sob novos títulos e a escolha de um designer mais pop, com fotografias e trechos em destaques, os leitores podem ser atraídos a conhecer o que escreveram pensadores mais antigos.

 Dentre os conceitos que poderíamos relacionar estas obras, apresenta-se a referência a confiança de diversas maneiras: Sêneca nos faz pensar na confiança de si, Plutarco revela a (des)confiança  no outro e Pascal talvez concordasse com a noção derridiana de uma confiança que não se estabelece por regras, como um desdobramento de seu pensamento “(…) a verdadeira moral zomba da moral. Quer dizer que a moral do juízo zomba da moral da mente, que não tem regras”.

 Contra uma visão mecanicista do mundo que venceu com a modernidade e sua razão controladora, Pascal traz a instabilidade como condição humana, que reflete tanto em uma nova visão da moral, como faz justiça ao autoconhecimento devolvendo a miséria ao humano, ou seja, a instabilidade que cabe à sua “parte animal”. E não será este o momento deste novo homem?

 Estas são apenas algumas questões que podemos enunciar nesta coleção, que pode ser muito interessante ao público que busca conhecer a filosofia, desde que não se confunda a democratização deste conhecimento com uma espécie de auto ajuda por intelectuais.