Narcotráfico: uma guerra na guerra
Quase dez anos após o lançamento de Narcotráfico: uma guerra na guerra, do professor de Relações Internacionais Thiago Rodrigues, a Desatino apresenta agora uma segunda edição do livro, revista e ampliada. Escrita antes da última mudança em nossa Lei de Drogas (Lei n. 11.343), ocorrida em 2006, essa obra torna-se ainda mais importante diante da iminência de novas, e péssimas, mudanças no ordenamento jurídico que estabelece a proibição de algumas substâncias.
Aliando grande erudição e interpretações instigantes e atuais do pensamento libertário a um texto conciso e ágil, Rodrigues traça nesse pequeno livro um panorama do nascimento e das funcionalidades políticas, econômicas e morais do proibicionismo que fisga o leitor para muito além da curiosidade histórica – se para o falecido antropólogo Gilberto Velho “estudar drogas é estudar a sociedade”, seria possível agregarmos que entender a guerra às drogas é entender como funciona e é exercido o poder.

“O incômodo alimentado pela existência da economia ilegal das drogas se apoia não apenas na dificuldade de identificá-la ou no medo gerado por sua violência; ela transtorna porque negocia mercadorias consideradas insuportáveis por boa parte das pessoas”, aponta Rodrigues. E aqui seria interessante partir dos elementos que ele nos traz para responder a uma questão que aflige muito a nós, antiproibicionistas: por que a alteração de consciência aparece, na luta diária que constitui nossa vida, como algo mais insuportável do que a guerra empreendida contra ela? Supostamente em nome da saúde pública, eles matam, encarceram, torturam e oprimem, e são os usuários que estão deslocados da realidade?
“Muito poder e dinheiro estão à espera daqueles que penetram em nossas inseguranças”, observou Barry Glassner em Cultura do medo. Mesmo diante do avanço desse debate nos últimos anos, o proibicionismo segue firme em sua tarefa de nos proteger de nós mesmos – e gerar muito lucro e injustiça nesse meio-tempo. Livros como os de Rodrigues são mais do que necessários em tempos como os que vivemos: são um alento.