NO AVESSO DO PARAÍSO – VIDA CLANDESTINA NO TEMPO DOS GENERAIS

Livros, filmes e documentários têm registrado, nos últimos anos, testemunhos e histórias de exilados e presos políticos de vários matizes da esquerda brasileira. Mas permanecem praticamente desconhecidas as histórias dos militantes anônimos que optaram por viver na clandestinidade e integravam a retaguarda dos movimentos de esquerda, combatendo a ditadura militar com outras armas.
É desse cotidiano que trata o livro No avesso do paraíso – Vida clandestina no tempo dos generais, um relato da vida isolada, atípica e perigosa de alguns militantes clandestinos durante a vigência da ditadura militar brasileira (1964-1985).
Os depoentes retratados no livro foram, ao lado de outros companheiros de jornada, combatentes de uma causa que acreditavam justa e inadiável. Quando o risco de serem apanhados nas malhas da repressão se tornou iminente, optaram por resistir, submergindo na clandestinidade não só para sobreviver, mas para continuar a defender seus ideais. Atentos ao menor vacilo – pois a qualquer momento poderiam ser presos, torturados e assassinados.
O livro narra como os clandestinos, exilados em seu próprio país, construíram um mundo paralelo, cortando os laços com a família e com os amigos. Apesar de perseguidos, foram morar na periferia, trabalhar em fábricas no intuito de, junto à população e aos trabalhadores, organizar a luta contra a ditadura militar.
Foi uma existência vivida sob risco permanente, marcada pelo medo e por constante tensão. Muito distante da superfície do país solar e ao mesmo tempo entorpecido, embalado pelo ritmo ufanista dos “90 milhões em ação, pra frente Brasil”.
A leitura do livro, especialmente para os mais jovens, faz parte da memória de um período difícil na vida brasileira, cujo autoritarismo, tortura, assassinatos, censura à imprensa e desmandos de toda ordem esperamos jamais reviver.