NOVA YORK: A VIDA NA CIDADE GRANDE

Uma incrível percepção das sutilezas do mundo cosmopolita está representada nos desenhos de Will Eisner. Nessa declaração de amor às avessas, o autor, considerado pai dos quadrinistas, se vale de muitos desenhos e algum diálogo para emergir os típicos personagens do cotidiano das grandes cidades. Nova York reúne quatro livros importantes do autor: Nova York: a grande cidade e Caderno de tipos urbanos são breves histórias em forma de vinhetas, cuja marca é a apreensão rápida e aguda da pobreza, da desigualdade, da multidão e da vida das pessoas em um contexto pouco acolhedor. Nova York é o cenário, mas poderia ser qualquer grande cidade do mundo: meninos de rua brigam por moedas, degraus de um edifício são testemunhas da vida no cortiço, um hidrante abastece as necessidades cotidianas de uma família.
Pessoas invisíveis e O edifício são o que há de mais moderno na linguagem cinematográfica das graphic novels. A primeira história traz para o centro da trama os tipos imperceptíveis da vida cosmopolita. Esses, da mesma forma que ganham protagonismo, padecem da sua própria sina: a invisibilidade. Em O edifício, um homem não é capaz de salvar as crianças, uma mulher não se casa com o poeta, um violinista morre junto com o prédio e o empreiteiro fica obcecado pelo edifício em que seu pai começou a empresa. Quatro histórias são sepultadas na demolição de um edifício.  “Para mim era especialmente inquietante a insensível remoção de edifícios”, diz Eisner.  “Não é possível que, tendo feito parte da vida, eles não absorvam de alguma forma a radiação proveniente da interação humana. E imagino o que resta quando um edifício é demolido.” Qualquer identificação com o que acontece na sua cidade não é mera coincidência, toda a leitura faz refletir sobre os processos de demolição e (re)construção pautados pela cidade capitalista.
Para os leitores de quadrinhos ou de romances, ou para moradores das grandes (ou pequenas) cidades, Nova York é uma obra imperdível, que revolve o que há de mais inquietante na vida cosmopolita.