NOVAS TEORIAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
Este novo livro de uma das mais importantes estudiosas brasileiras sobre movimentos sociais é, em grande parte, fruto de pesquisa realizada em 2007, na New School University, em Nova York. Mesma instituição onde, dez anos antes, Maria da Glória Gohn fez seu pós-doutorado, que resultou no já clássico Teoria dos movimentos sociais. Terão surgido tantas novas teorias? Claro que tudo depende de como conceituá-las e, a partir daí, expô-las. Como a própria autora explicita, muitas delas focalizam “ações coletivas que não são movimentos sociais propriamente ditos”. A sobrecarga é inevitável e certos penetras insistem em aparecer nos capítulos iniciais do livro. É o caso das ONGs.
Nesta primeira parte, o breve último capítulo, voltado para a América Latina, é menos ambicioso. Pouco se sabe acerca dos movimentos sociais no sul do México, no Equador, na Bolívia ou no Brasil, bem como sobre os governos que, em vários países do subcontinente, se apresentam como antissistêmicos. As abordagens de inspiração marxista “ou próximas das teorias críticas” são restringidas à produção do Clacso, ignorando autores prolíficos, como James Petras, além de diversas revistas marxistas, assim como a produção intelectual do MST e inúmeras dissertações e teses acadêmicas, dentro e fora da América Latina.
A segunda parte da obra é um belo esforço para reconstituir o fulcro da trajetória intelectual de Alain Touraine, um dos mais importantes estudiosos dos movimentos sociais. Aqui, o percurso é inverso e faz uma periodização precisa das diferentes (re)formulações do conceito de movimentos sociais, em estreita relação com a dinâmica histórica por eles afetada e em cujo interior eles se modificaram.
Na última parte, a instigante e erudita análise de movimentos feministas e movimentos de mulheres carece de formulações mais rigorosas acerca das relações entre Estado e capitalismo, lacuna não suprida por imprecisa referência à chamada globalização. Em suma: este livro de estrutura desigual é, além de informativo, uma importantíssima contribuição para o debate teórico e político acerca dos desafios dos movimentos sociais, em especial na América Latina, neste turbulento início de século.