O LUGAR DAS MEIAS – A POLÍTICA NO IMPÉRIO
Depois de dez anos, chega ao Brasil o livro do economista suíço, Christian Marazzi: uma das mais importantes obras sobre a passagem do capitalismo industrial para o capitalismo cognitivo. Trata-se de um livro pioneiro no debate sobre as relações de poder e as lutas inscritas nos processos de financeirização do capital.
A “virada de época” ocorreu quando da entrada da comunicação – portanto, da linguagem – na esfera da produção. A redução do poder aquisitivo e do consumo das mercadorias conduziu a produção a “adequar-se à situação”, isto é, estruturar-se de modo a poder aumentar a produtividade sem aumentar as quantidades produzidas. A produção enxuta de “pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos” inaugura um capitalismo remix, recombinante, de customização massificada. Isso porque a produtividade desse capital é extraída em tempo real – usando as tecnologias informáticas – do controle das novas demandas de consumo. Os departamentos de marketing passam a ditar todo o ritmo da produção do chão de fábrica. As técnicas de apropriação das variações do consumo vão exigir novos valores de uso para o trabalho, como criação, gestão, manipulação de informação, produção de serviços e afetos, adaptabilidade às mudanças repentinas. A força de trabalho também passa a ser contratada just in time: para cada nova demanda do consumo, um novo valor de uso do trabalho. O resultado é um estatuto do trabalho que beira o colapso: fragmentação do trabalho, terceirização, trabalho em tempo parcial, autônomo, por empreitada, enfim, toda uma gama de relações de trabalho de curta duração, cujo principal propósito é a de responder à oferta criada pela demanda.
É o terreno da reprodução que dita o ritmo da produção e concentra as novas contradições: a comunicação é, para o trabalhador de hoje, aquilo que o salário foi para o operário industrial. A comunicação – na verdade, a própria cidadania – é a condição para que o trabalho vivo se mantenha potente.