O TEMPO E O CÃO: A ATUALIDADE DAS DEPRESSÕES
O livro nos ajuda a compreender as depressões como sintoma social produzido pelas sociedades contemporâneas, não excluindo o fato de que as depressões são formações do inconsciente que se expressam na singularidade de cada sujeito. Nesse sentido, através da escuta clínica pode-se apreender as formas contemporâneas do mal-estar civilizatório do qual fazemos parte.
No começo do livro, aborda a depressão como sintoma da contemporaneidade. Faz uma retrospectiva do lugar ocupado pela melancolia desde a Antiguidade Clássica até meados do século XX. De acordo com Maria Rita, nossa cultura tem produzido uma patologização generalizada da vida subjetiva, cujo efeito é produzir mais depressivos. Esta mesma cultura visa produzir sujeitos sem perturbações, porém, seu resultado é exatamente o contrário: vidas vazias de sentido, de criatividade e de valor. Essa medicalização da vida é estratégica para a expansão da indústria farmacêutica. Como diz André Green, citado por Kehl, estamos criando uma corrente pragmática de “psiquiatria veterinária”.
Na segunda parte da obra, há uma análise da Temporalidade Subjetiva dos Depressivos. Interessante notar conceitos advindos dos filósofos que pensaram a questão do tempo no século XX – Henri Bergson e Walter Benjamin –, e o psicanalista Jacques Lacan sobre o tempo lógico. Aqui, a autora faz uma reflexão acerca da sociedade capitalista que exige o atropelamento do tempo para a produção de mais-valia.
O livro estabele diferenças fundamentais entre a depressão e a melancolia; a posição subjetiva que os neuróticos encontram nas histerias e obsessões em relação aos episódios depressivos.
Este livro é leitura imprescindível para quem sofre de males depressivos e para todos os profissionais de saúde interessados em compreender a complexidade dos sintomas depressivos e das relações mercadológicas que atravessam a questão do mal-estar de nossa civilização.