O Zen na cozinha

Em 2008, celebramos os Cem Anos da Imigração Japonesa no Brasil, ou melhor, os Cem Anos da Integração Brasil-Japão, como são chamados pelos governos dos dois países. Nada mais apropriado do que esse livro da Monja Gyoku En, no qual Brasil e Japão se encontram e se misturam, com o sabor da pureza e da simplicidade. Uma cozinha onde se cozinham tradições e culturas, mandioca e sushi, saúde e sanidade, respeito à vida e dignidade.
    A cozinha é um lugar sagrado. Os alimentos são vida. Cada um com seu sabor. Para poder apreciar é preciso estar em plena atenção. O silêncio nos permite ouvir melhor. O arroz branco limpa as papilas gustativas. Os Mestres Zen têm paladar sensível, pois a meditação zazen abre os canais de percepção, e é possível, durante um retiro, sentir o sabor da água com que se cozeu o arroz. Assim sendo, uma Tenzô – monja chefe de cozinha – é alguém capaz da delicadeza de servir. Purificando e nutrindo por meio da compaixão e da sabedoria. Respeitando cada forma de vida e dando vida à própria vida. Como um dragão nas águas, a Monja Gyoku En está em seu elemento natural: nas cozinhas dos mosteiros, dos templos, das casas, das escolas. Ouve as panelas e sente os odores. Pressente as necessidades das pessoas. E, aqui, compartilha anos de prática, de tentativas e de sucesso. Bom apetite!
    Antes de comer há um antigo poema/prece/reflexão: Primeiro,/ Inumeráveis seres nos trouxeram esta comida/ Devemos saber como chegou até nós./ Segundo,/ Devemos considerar se nossa virtude e prática/ A merecem./ Terceiro,/ Como desejamos a condição natural da mente/ Para estar livre de apegos/ Precisamos estar livres de ganância/ Quarto,/ Como um bom remédio para manter nossa vida/ Aceitamos esta comida/ Quinto,/ Para nos tornarmos o Caminho/ Agora comeremos (…) Assim comemos com todos/ Primeiro para extinguir o mal/ Segundo para praticar o bem/ Terceiro para servir todos os seres/ E nos tornarmos o Caminho Iluminado. Mãos em prece.