Os estranhos caminhos do nosso dinheiro
A recomendação do professor Ladislau Dowbor é clara: siga o fluxo do dinheiro. Aí você vai perceber de quem ele sai e a quem ele beneficia. Mas não é fácil seguir o conselho, pois os caminhos desse fluxo estão protegidos por linguagens cifradas, sigilo, operações de ocultamento de sua origem, paraísos fiscais.

É muito dinheiro que some para não pagar impostos. Os dados apresentados pelo autor são impressionantes. Estamos falando de um terço a metade do PIB mundial. No Brasil, estima-se que estejam nos paraísos fiscais cerca de R$ 1 trilhão, um quarto do PIB nacional. A evasão fiscal é, portanto, sistêmica, e quase todas as grandes empresas a praticam. Faz parte do modelo.
Mas existem também outros importantes mecanismos para tirar o dinheiro das maiorias e concentrá-lo nas mãos de poucos: uma política tributária regressiva, os juros da dívida pública, as contratações das grandes obras públicas pelo Estado, as taxas de juros comerciais praticadas pelo cartel dos grandes bancos brasileiros, os investimentos públicos que valorizam espaços urbanos.
Mas tudo isso não pode acontecer sem apoio do poder político. Daí o autor passa a considerar o financiamento das campanhas eleitorais pelas grandes empresas; afinal, 74,4% das campanhas eleitorais de 2010, no Brasil, foram financiadas pelas grandes empresas, coisa de R$ 2 bilhões. Isso gera as bancadas de interesses privados no Parlamento e toda uma distorção no sistema político que, em vez de defender o interesse dos eleitores, defende os interesses de quem financiou suas campanhas.
Além do diagnóstico, em linguagem simples, compreensível para todos os cidadãos, Dowbor aponta os caminhos de superação desse modelo, em que a cidadania e a democracia ocupam um lugar central.