OS ´ULTIMOS DA GUERRA FRIA
Em 2011, Barack Obama anunciou seu provável maior trunfo: o assassinato de Bin Laden, em atividades secretas no Paquistão. A ação usou interrogatórios em Guantánamo e mostras de sangue recolhidas numa falsa campanha de vacinação. O alvo foi executado sem julgamento, e os familiares não puderam sepultar o corpo. Para Obama, justiça – a luta contra o terrorismo justifica os meios.
A justificativa não valeu para os espiões cubanos da Rede Vespa, que se infiltraram nos anos 1990 em organizações responsáveis por atentados terroristas em Cuba, sediadas em Miami. Ao contrário, os cinco cubanos presos foram condenados a penas desmedidas (como duas prisões perpétuas). E eles não mataram, não torturaram para obter informações, nem sequer buscaram dados de segurança dos Estados Unidos.

A fantástica história é contada por Fernando Morais, primeiro jornalista no mundo a ter acesso à documentação secreta e a fontes cubanas e norte-americanas, e a entrevistar os presos e outros personagens importantes em diferentes países. O livro detalha operações, informações inéditas, o sacrifício pessoal dos espiões (e familiares), a improvável ação de agentes de uma pequena ilha na maior potência do planeta, os atentados evitados, as organizações anticubanas de Miami e o julgamento de exceção do caso. Um verdadeiro roteiro cinematográfico, sem ficção.
Como bom livro, deixa interrogações: e os espiões que escaparam? Por que Gerardo (o chefe) não foi entrevistado? O que levou à descoberta do grupo? Só o título é infeliz: associa, equivocadamente, por um lado a prática de espionagem e por outro a operação cubana à Guerra Fria. Mas isso não diminui a preciosidade da obra, cuja história precisa ser conhecida.
Os Estados Unidos matam e cometem abusos pelo planeta em nome do combate ao terrorismo, mas tratam como criminosos aqueles que buscaram proteger seu país de atentados. Aliás, o livro mostra que os norte-americanos parecem mais dispostos a combater o terrorismo no Afeganistão, Iraque ou Paquistão do que em Miami.