Para uma ontologia do ser social I
Para uma ontologia do ser socialconforma o ápice do percurso daquele que pode ser considerado o maior filósofo marxista do século XX.
Na obra, Lukács revela conhecer aquilo de mais sofisticado na filosofia não marxista, propondo um embate franco e decidido. Trata da situação da filosofia de sua época, remetendo principalmente à forte influência de Heidegger, Wittgenstein e Carnap, pensadores que critica. Mostra, assim, que o marxismo somente pode ser uma força viva enquanto corpussimultaneamente avesso ao dogmatismo e fundamentado em uma leitura rigorosa e cuidadosa da obra de Marx.

A obra do último, inclusive, pode ser vista sob uma nova luz ao se perceber a superação efetuada na filosofia com o florescimento do pensamento de Marx, tema tratado com atenção no capítulo dedicado a Hegel.
Em outras palavras, tem-se um texto que concilia o rigor teórico com o embate explícito e firme, o que infelizmente não é tão comum nos dias de hoje. Aliás, a própria raridade do debate honesto (como aquele que pratica Lukács no livro) é tratada pelo marxista: na esteira do pensamento do cardeal Belarmino e de sua doutrina sobre a “dupla verdade” (fé e razão), o pensamento hegemônico contemporâneo teria renunciado à apreensão reta da verdade objetiva. E isso teria implicações decisivas, originando uma convivência de aspectos objetivamente inconciliáveis, os quais, relacionados, dariam ensejo, de um lado, ao apelo a uma transcendência esvaziada e, de outro, à manipulação mais crassa.
A tarefa da obra é justamente se opor a essas duas tendências simétricas, as quais somente podem ser suprimidas com a compreensão da historicidade da própria concretude do real. Trata-se, pois, de uma leitura não só atual, mas também indispensável.