Pequenos contos para começar o dia

Já pelo título percebemos que estamos diante de uma obra despretensiosa. O próprio autor assume isso na introdução, avisando que se trata de narrativas curtas que mandava a amigos por e-mail, para “alegrar pessoas queridas”, e que depois passou a compartilhar pelas redes sociais.

Sempre menores que um parágrafo, elas são como instantâneos daquilo que nos escapa quando procuramos entender a realidade do ponto de vista macro (ou seriam fotos tiradas pelo celular e postadas no Instagram?). O foco sempre está nas pessoas envolvidas, seus dilemas, suas frustrações, suas alegrias.

A concisão da linguagem utilizada perde sua aspereza pela prosa melódica e, em quase todas as histórias, pelas construções de imagens líricas. Atribuir uma certa dose de poesia à vida parece ser uma das preocupações do autor nesse livro. Em algumas delas também aparecem aspectos que podemos considerar dentro da tradição do realismo fantástico, como na narrativa do vidreiro que sopra as estrelas para o casamento do filho, do filho que assume a tarefa familiar de acordar o sol e da senhora que, remexendo e cozinhando o nada, botava ordem no mundo.

Encontros e desencontros são recorrentes. Do biscoito da sorte chinês que de vazio não tinha nada, de um certo gosto forçado por bolo de chocolate e da editora que, para além do texto, também ajusta os descaminhos do jornalista. Sim, Sakamoto é jornalista. Doutor em Ciência Política e professor universitário, está à frente de uma das principais entidades de combate ao trabalho análogo à escravidão do país, a Repórter Brasil.

O que poderia parecer um paradoxo – o lirismo de seus pequenos contos quando cotidianamente enfrenta a brutalidade da vida real – não o é: aos que querem transformar o mundo é necessário, antes de tudo, acreditar nele. Derivaria disso seu olhar otimista sobre as pequenas narrativas que envolvem seus personagens?