Tropicália
Quando todas as condições históricas de seu nascimento desapareceram (a ditadura militar, o desenvolvimentismo econômico, a hegemonia da esquerda na cultura, a incipiente indústria cultural), o tropicalismo passou a encarnar, também no resto do mundo, a imagem de uma vanguarda pós-moderna avant la lettre. Agora que Caetano Veloso cantou no Oscar e atingiu o pódio mundial da indústria cultural e Gilberto Gil é nada menos do que o ministro da Cultura, a “verdade tropical” dá as cartas. De importador das tendências mundiais da arte comercial, ajustadas à cultura modernista brasileira, o tropicalismo passou a ser grife global e poder local. Deste estranho descompasso histórico surgiu uma elaborada exposição internacional e este belo catálogo, Tropicália.
A questão hoje é problematizar essa conquista. Para isso os textos desta obra, especialmente a apresentação de seu organizador, mais ensaios como os de Celso Favaretto, Flora Süssekind, Christopher Dunn, Ivana Bentes e Hermano Vianna (que defende uma confusa política anti-racionalista) são importantes. Assim como a preciosa documentação de época, com as estupendas e raras reflexões de Hélio Oiticica e Lina Bo Bardi. Tudo isso nos ajuda a pensar o establishmentcultural contemporâneo…