VEJA: O INDISPENSÁVEL PARTIDO NEOLIBERAL

Atacar a revista Veja ou revidar ataque desferido por ela é atividade rotineira, hoje em dia, nos meios de esquerda. Desde que a revista trocou o jornalismo interpretativo, sereno e plural que praticava em seus primórdios, pela defesa panfletária do ideário neoliberal na economia e conservador na política, ela vem colecionando inimigos, não apenas pelo que sustenta, mas pelo tom estridente e agressivo com que o faz.
Agora, entretanto, os adversários de Veja podem mais que deblaterar contra ela. Podem compreender o que se passou com essa publicação que erradicou qualquer veleidade de equilíbrio editorial e isenção sem perder a liderança de mercado entre as revistas semanais de informação. Está à disposição o livro Veja: o indispensável Partido Neoliberal (1989-2002), da historiadora Carla Luciana Silva, uma vigorosa tese de doutoramento defendida na Universidade Estadual do Oeste do Paraná e publicada pela editora da casa.
A hipótese da autora é que a revista teve papel decisivo na construção do neoliberalismo no Brasil ao ajustar sua linha editorial aos interesses do capital externo, da indústria do entretenimento e do capital oligopolizado. Fazendo-se entusiástica porta-voz desses interesses, a revista atuaria objetivamente como partido político, cumprindo funções de agitação, mobilização e educação da elite e classes médias para a defesa da nova etapa da acumulação capitalista.
O estudo foca o período de 1989 a 2002, quando o neoliberalismo foi experimentado nos governos Collor, Itamar e FHC, antes de ser posto em rédeas mais curtas sob Lula. Para demonstrar o papel de Veja como farol dessa ideologia, Carla Silva esquadrinhou mais de 720 edições da revista e selecionou uma infinidade de exemplos de como a pauta é orientada, em qualquer seção ou assunto, para reiterar certezas e formar opinião – jamais fomentar dúvidas e alimentar o debate crítico. É o que a faz “indispensável” como instrumento político, num país de partidos inconsistentes e desfibrados.