TV Diplomatique entrevista Cândido Grzybowski
20 de junho de 2011
O Rio de Janeiro sediará em maio de 2012 um evento que pode simbolizar o fim de um ciclo e o início de outro. Na Rio+20 espera-se que seja feito um balanço das conferências da ONU dos anos 90, que incluíram discussões sobre população, direitos humanos, mulheres, desenvolvimento social e agenda urbana.
A CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS
A Rio+20, como evento mundial, nos permite sair das nossas fronteiras; nos abrir à solidariedade universal, para além dos particularismos; buscar pontos comuns de observação, que nos desloquem e façam com que nos encontremos, de muitos lugares do mundo. Mas isso com a condição de que nossa referência esteja nos povos e populações marginalizados e excluídos, com os quais compartilhamos os anseios por uma sociedade cujo pilar de sustentação sejam os direitos e a justiça social e ambiental.
Não temos todas as respostas, mas temos a responsabilidade de buscá-las entre o desejável e o possível. Mas mesmo o possível não se realizará sem que seja portador de utopias que reatem os laços entre ser humano e natureza, no campo e na cidade. Ele exige, portanto, uma mudança completa dos paradigmas que definem a civilização ocidental. Querer outras formas de organização das sociedades além dos Estados-Nações, outras formas de democracia além da democracia parlamentar, outras economias além da economia capitalista, outra mundialização além da do mercado, outras culturas além da imposta pelos EUA. Escutá-los com atenção talvez nos ajude a encontrar os rumos do futuro e formular novas utopias que motivem a humanidade, em particular a juventude.
Desenvolvem-se através do planeta centenas de milhares de alternativas que podem ser as sementes da construção de novas utopias:
• Milhões de camponeses, de sem-terra, de povos indígenas e outros grupos tradicionais resistem e lutam pela reforma agrária, pela agroecologia, pelo definitivo domínio de suas terras ancestrais. Apoiados por tecnologias apropriadas, eles podem garantir soberania e segurança alimentar e nutricional do planeta e dar contribuição decisiva na manutenção da biodiversidade, das águas e na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Eles apontam uma alternativa ao modelo de agricultura e pecuária dominante, que provoca a destruição dos ecossistemas e da biodiversidade, contribuem fortemente para o efeito estufa e o envenenamento das águas, dos solos e das pessoas.
• Experiências de economia solidária e fortalecimento de mercados locais contribuem para a redução do consumo de energia, encurtando os circuitos entre produção, distribuição e consumo, favorecendo as micro, pequenas e médias empresas, que fornecem empregos, em contraposição à circulação das mercadorias através do mundo e a deslocalização permanente das empresas, e avanços tecnológicos que não reduzem o consumo de energia e de matérias-primas e produzem desemprego.
• A lógica da economia não deve ser a do lucro, mas a de assegurar condições de vida digna para as populações. Fortalece-se uma economia solidária que combate a economia dominante, excludente das pessoas. Nas cidades, nas roças e nas florestas do sul do mundo, grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras se encontra na economia informal, esquecidas pela macroeconomia e inventa uma microeconomia em parte sucedânea e concorrente da economia formal, em parte inovadora.
• Reconstituição de um tecido urbano descentralizado e interiorizado, novas políticas habitacionais e urbanísticas, de saneamento e transporte coletivo. Estas propostas visam enfrentar o desequilíbrio nas cidades e metrópoles que viraram plataformas de exportação cercadas por enormes aglomerações de pobreza e miséria, que somadas ao desequilíbrio na ocupação humana dos espaços nacionais e regionais, fazem dessas cidades, e dentro delas, das camadas populares, as primeiras vítimas das mudanças climáticas.
*a íntegra deste artigo foi publicada na edição nº 45 do jornal Le Monde Diplomatique Brasil pela Fase (organização não-governamental voltada para a promoção dos direitos humanos, da gestão democrática e da economia solidária).
O Rio de Janeiro sediará em maio de 2012 um evento que pode simbolizar o fim de um ciclo e o início de outro. Na Rio+20 espera-se que seja feito um balanço das conferências da ONU dos anos 90, que incluíram discussões sobre população, direitos humanos, mulheres, desenvolvimento social e agenda urbana.
A CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS
A Rio+20, como evento mundial, nos permite sair das nossas fronteiras; nos abrir à solidariedade universal, para além dos particularismos; buscar pontos comuns de observação, que nos desloquem e façam com que nos encontremos, de muitos lugares do mundo. Mas isso com a condição de que nossa referência esteja nos povos e populações marginalizados e excluídos, com os quais compartilhamos os anseios por uma sociedade cujo pilar de sustentação sejam os direitos e a justiça social e ambiental.
Não temos todas as respostas, mas temos a responsabilidade de buscá-las entre o desejável e o possível. Mas mesmo o possível não se realizará sem que seja portador de utopias que reatem os laços entre ser humano e natureza, no campo e na cidade. Ele exige, portanto, uma mudança completa dos paradigmas que definem a civilização ocidental. Querer outras formas de organização das sociedades além dos Estados-Nações, outras formas de democracia além da democracia parlamentar, outras economias além da economia capitalista, outra mundialização além da do mercado, outras culturas além da imposta pelos EUA. Escutá-los com atenção talvez nos ajude a encontrar os rumos do futuro e formular novas utopias que motivem a humanidade, em particular a juventude.
Desenvolvem-se através do planeta centenas de milhares de alternativas que podem ser as sementes da construção de novas utopias:
• Milhões de camponeses, de sem-terra, de povos indígenas e outros grupos tradicionais resistem e lutam pela reforma agrária, pela agroecologia, pelo definitivo domínio de suas terras ancestrais. Apoiados por tecnologias apropriadas, eles podem garantir soberania e segurança alimentar e nutricional do planeta e dar contribuição decisiva na manutenção da biodiversidade, das águas e na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Eles apontam uma alternativa ao modelo de agricultura e pecuária dominante, que provoca a destruição dos ecossistemas e da biodiversidade, contribuem fortemente para o efeito estufa e o envenenamento das águas, dos solos e das pessoas.
• Experiências de economia solidária e fortalecimento de mercados locais contribuem para a redução do consumo de energia, encurtando os circuitos entre produção, distribuição e consumo, favorecendo as micro, pequenas e médias empresas, que fornecem empregos, em contraposição à circulação das mercadorias através do mundo e a deslocalização permanente das empresas, e avanços tecnológicos que não reduzem o consumo de energia e de matérias-primas e produzem desemprego.
• A lógica da economia não deve ser a do lucro, mas a de assegurar condições de vida digna para as populações. Fortalece-se uma economia solidária que combate a economia dominante, excludente das pessoas. Nas cidades, nas roças e nas florestas do sul do mundo, grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras se encontra na economia informal, esquecidas pela macroeconomia e inventa uma microeconomia em parte sucedânea e concorrente da economia formal, em parte inovadora.
• Reconstituição de um tecido urbano descentralizado e interiorizado, novas políticas habitacionais e urbanísticas, de saneamento e transporte coletivo. Estas propostas visam enfrentar o desequilíbrio nas cidades e metrópoles que viraram plataformas de exportação cercadas por enormes aglomerações de pobreza e miséria, que somadas ao desequilíbrio na ocupação humana dos espaços nacionais e regionais, fazem dessas cidades, e dentro delas, das camadas populares, as primeiras vítimas das mudanças climáticas.
*a íntegra deste artigo foi publicada na edição nº 45 do jornal Le Monde Diplomatique Brasil pela Fase (organização não-governamental voltada para a promoção dos direitos humanos, da gestão democrática e da economia solidária).
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