A briga dos grandes
China, Rússia e Estados Unidos disputam território, riquezas e influência política em uma área estratégicaVicken Cheterian
Durante a inauguração de uma nova base militar no Tadjiquistão, o presidente Vladimir Putin disse: “Nossa presença militar no Tadjiquistão não será apenas uma garantia para nossos investimentos, mas também uma garantia de estabilidade na região” 1. Sem dúvida, ele prometeu um investimento de 2 bilhões de dólares nesse país ao longo dos próximos cinco anos. Depois de uma década de declínio de sua influência, os russos estão voltando à Ásia Central, com aumento de sua presença militar e incremento de investimentos na infra-estrutura e no setor da energia.
No vizinho Quirguistão, Moscou reforçou sua base militar na base aérea de Kant com mil homens adicionais e mais aviões. Kant fica a apenas 20 quilômetros do aeroporto de Manas, perto de Bichkek, onde os EUA têm suas instalações militares. O presidente Putin concordou com a presença americana em seus ex-satélites soviéticos, primeiro, porque não tinha escolha, e segundo, considerou de seu interesse que os EUA destruam o Talibã e grupos militantes similares, como o Movimento Islâmico do Usbequistão (MIU), que estavam ameaçando os aliados da Rússia na região. Além do mais, Moscou declarou oficialmente que a presença militar americana na Ásia Central está condicionada à guerra no Afeganistão e logo que esse país esteja estabilizado as tropas americanas serão retiradas.
Entretanto, parece que as bases americanas no Usbequistão e no Quirguistão não estão ligadas ao atual esforço anti-Talibã no Afeganistão: têm mais a ver com a nova estratégia militar americana. Os EUA vão reduzir seu pessoal militar na Europa em cerca de 70 mil efetivos e transferi-los para algumas novas bases nos Bálcãs, Oriente Médio e Ásia Central, transformando-as em uma força de intervenção rápida, para que as recém-conquistadas bases na Ásia Central tenham um papel estratégico. Essas bases não apenas têm significado militar para a arquitetura de segurança da Ásia Central, mas também significam uma posição de controle estratégica entre o sul da Ásia, Rússia e China.
Chineses em alta
A influência chinesa sobre a Ásia Central está em alta, causando alarme em Moscou e Washington
Considerando a estratégia militar dos EUA compreensível, sua política é muito confusa. Os EUA cortaram verbas de desenvolvimento destinadas ao Usbequistão em 2004 por causa da falta de avanços dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, a cooperação militar vai de vento em popa. Tais políticas confundem igualmente amigos e inimigos. Enquanto o apoio que Washington dá aos regimes corruptos e repressivos torna a emergência de qualquer movimento democrático de estilo ocidental impopular, a deposição à força de Saddam Hussein e a deposição pacífica de Edvard Schevardnadze trouxeram suspeitas aos círculos de poder. No Usbequistão todos os projetos apoiados pelos EUA e ONGs foram recentemente fechados por temor de sua influência em período pré-eleitoral. Há uma suspeita crescente nas capitais da Ásia Central a respeito dos planos dos EUA. “A assistência ocidental ao Afeganistão depois da guerra não foi suficiente”, disse Vyacheslav Khamisov, do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos em Bichkek, “e agora a iniciativa estratégica ocidental na Ásia Central está perdida”.
Ao contrário do que ocorria no século passado, a influência chinesa sobre a Ásia Central está em alta, causando alarme em Moscou – e Washington. Comerciantes chineses são cada vez mais vistos em Alma Ata ou Bichkek, e uma nova estrada entre Khoroh e Khashgar pretende ligar o Tadjiquistão a Xinjiang. Depois dos vendedores ambulantes, vieram os oficiais chineses interessados em comprar petróleo casaque ou turcomano para satisfazer as necessidades de energia da próspera economia chinesa. Em maio, depois de sete anos de negociações, a China e o Casaquistão concordaram em construir um oleoduto de mil quilômetros, da região central de Karaganda, no Casaquistão, a Xinjiang, na região noroeste da China, até o fim de 2005. A China também está ativa no campo diplomático, por meio da Shanghai Cooperation Organization (SCO), que inclui os cinco Estados da Ásia Central e a Rússia – que é basicamente um fórum de segurança, refletindo interesses de Beijing na estabilidade da Ásia Central de modo que não afete negativamente o separatismo Uygur2 na província de Xinjiang. Com a crescente influência chinesa está também em alta o medo das intenções territoriais daquele país: embora o Casaquistão seja um vasto país, seus 14 milhões de habitantes são apenas 1% dos 1,4 bilhões da China.
(Trad.: Betty Almeida)
1 – Reuters, Duchanbe, 18 de outubro de 2004.
2 – Os Uygurs são o grupo ?
Vicken Cheterian é jornalista, autor de War and peace in the caucasus, Russia´s trouble 3d frontier, Nova York, Hurst/Columbia University Press, 2008.