A “ciência” como álibi
Ao longo de décadas, três “professores” ajudaram a indústria do produto a continuar matandoPatrick Herman
Se um número considerável dos responsáveis pelo desastre sanitário do amianto tentam ser esquecidos, outros não se preocupam em reaparecer nos lugares mais inesperados: em Bordeaux, um defensor do uso do amianto – o professor Patrick Brochard – dirige o centro de recuperação médica das pessoas que contribuiu a expor; em Clermont Ferrand, acaba de ser instalado um laboratório que analisa poeiras, fibras e outras partículas – LHCF Environnement. Seu diretor-presidente? Daniel Bouigue, que na época era secretário-geral da Câmara patronal do amianto e membro da Comissão Permanente para o Amianto (CPA), representando a Asbestos International Association. Uma autêntica provocação, no entender das operárias da Amisol: “Num primeiro momento, ganham dinheiro ?amiantando?, e depois, quando essa mina se acaba, ganham dinheiro ?desamiantando?.”
No início da década de 70, o caráter cancerígeno do amianto foi estabelecido de forma indiscutível1. Na época, o professor Jean Bignon colocava algumas questões: “Acredito que não temos o direito de esperar por provas mais convincentes”, escreveu, com relação a Jussieu, em 20 de novembro de 1975 “para evitar a poluição no interior de locais como esse2.” Mas, depois de promovido a chefe do serviço de pneumologia do hospital intermunicipal de Créteil (departamento de Val de Marne) em 1982, ele ajudaria na criação do CPA. Pilotado pelo lobby industrial e com uma assessoria de comunicação, esse organismo iria administrar as questões do amianto, na França, durante cerca de quinze anos, com a bênção dos respectivos governos… O dr. Bignon chegou, inclusive, a dar conselhos à indústria canadense, que pretendia “suprimir a toxicidade do amianto, modificando a planta física de suas usinas
Patrick Herman é jornalista.