A dívida africana: mitos e realidade
Antes de perguntar sobre a necessidade ou não de liquidar a dívida dos países africanos, seria preciso considerar sua exata medida em um contexto de fragilidade dos instrumentos estatísticos e falta de transparência de alguns credores bilaterais, como a China. A harmonização dos números disponíveis em várias fontes diferentes permitiria compreender melhor o problema
O ano de 2020 foi palco de uma incomum discussão entre o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). O presidente da instituição de Bretton Woods, David Malpass, acusava o segundo de pedir empréstimos de maneira inconsequente.1 O acusado refutou, imediatamente, em um comunicado: “No que diz respeito aos países descritos como ‘pesadamente endividados’, nosso banco reconhece e acompanha de perto a tendência do aumento da dívida. No entanto, não há risco sistêmico de superendividamento”. Dois anos depois, a polêmica continuou. O diretor de redação do site Jeune Afrique questionava se “não se agita demasiadamente o espantalho do endividamento. [...] Na realidade, embora algumas economias estejam realmente em desespero, elas não são majoritárias e o cenário é bem menos catastrófico do que parece” (12 maio 2022). No entanto, vários chefes de Estado africanos estão alarmados com a dívida pós-Covid, agravada pelas consequências da guerra na Ucrânia e pelo…