A encruzilhada de Alan García
Marcadas para novembro, as eleições regionais e municipais no Peru serão um teste importante para o presidente eleito há poucos meses. Apoiado por uma base parlamentar que inclui a direita, ele será capaz de sustentar o discurso que lhe garantiu a vitória nas urnas?Maurice Lemoine
Em matéria de democracia, há o ideal e a “lei da selva”. No Peru, em maio último, a uma semana do segundo turno das eleições presidenciais de 4 de junho, a mídia distribuía golpes baixos. Deste modo: “Enviados por [Hugo] Chávez”, 87 venezuelanos entraram no país pelo aeroporto internacional de Tacna. Eles fariam parte de um plano que visa provocar violência para favorecer o candidato “populista” Ollanta Humala. A Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA), partido de Alan Garcia, outro concorrente à presidência, faz coro. O ministro da Defesa, Marciano Rengifo, confirma a preocupante informação.
O boato seria depois desmentido. O famoso vôo trazia de volta ao país, fora seus 8 acompanhantes, 79 camponeses peruanos que haviam partido de Caracas para serem operados de catarata e outras afecções da vista, no contexto da “Operação Milagre”, um dos programas de saúde internacionalistas do governo bolivariano. Pouco importa… nos canais de televisão sempre as mesmas personalidades desenvolviam-analisavam-explicavam aquilo que elas já haviam desenvolvido-analisado-explicado centenas de vezes: coisas terríveis irão acontecer e darão à crise atual, retrospectivamente, uma aparência de bons velhos tempos.
O primeiro turno das eleições, em 9 de abril, já havia provocado uma forte sensação de desastre. Apoiada pelos Estados Unidos, pelo patronato e pelas multinacionais, Lourdes Flores (União Nacional) conseguiu apenas o terceiro lugar (23,56% dos votos), eliminada do segundo turno pelo inesperado García (24,35%) e o incontestável vencedor, Humala (30,84%), do Partido Nacionalista-União pelo Peru (PN-UPP).
Uma segunda chance para García?
Tudo o que o Peru acredita ser de bom tom e desejável, García detesta. Social-democrata, radical na juventude, presidente da República de 1985 a 1990, aplicou medidas corajosas no começo de seu mandato: redução unilateral do pagamento da dívida externa, nacionalização dos bancos, oposição “às forças do mercado”… O empresariado nacional e estrangeiro, o governo norte-americano (de Ronald Reagan) e o Fundo Monetário Internacional uniram-se, na época, para “fazer a sua caveira”. Cinco anos e vários erros mais tarde, seu mandato terminou em derrota, arruinado pela hiperinflação (7.000%) e a violência da guerrilha maoísta do Sendero Luminoso. Um desastre titânico!
Acusado de corrupção pelo regime de Alberto Fujimori, o ex-presidente se exilou em Paris entre 1992 e 2000, ano da queda do ditador, que fugiu para o Japão. Quando García voltou ao Peru, a imagem de corrupto estava indissociavelmente ligada a ele. Muito grave. Ele foi declarado inocente de algumas acusações. “O problema é que, para os outros, ele se protegeu atrás da prescrição”, considera Pedro Coronado, antigo diretor do Banco Central, que não lhe é em nada hostil. “Ele não foi julgado, nem condenado, nem inocentado. Em direito, é possível renunciar à prescrição e pedir para ser julgado”.
O antigo chefe de Estado suscitou muito rancor. O Peru pratica um tipo de ritual: linchar o presidente que está saindo. “Com García foi pior”, sorri Enrique Zileri, diretor da revista Caretas. “Ele era jovem, simpático, bom orador, na época foi considerado como um Messias. A decepção foi muito grande.”
Pior que a figura de García, apenas a do “anticristo” ex-tentente-coronel Ollanta Humala. Com cinqüenta soldados e seu irmão Antauro (igualmente oficial), ele se rebelou em outubro de 2000, no sul do país, contra a politização e a corrupção do exército comandado por Vladimiro Montesinos, fantasma do presidente Fujimori. Preso e anistiado no Natal de 2000, Humala partiu para Paris como agregado militar, e depois, para Seul. Foi de lá que entrou para a política, por uma procuração portada por seu irmão Antauro e os reservistas do exército. Ex-soldados, a maioria indígenas, recrutados à força para a guerra contra o Equador (1995) ou contra o Sendero Luminoso, foram abandonados pelo Estado à sua triste sorte. Quando seu irmão Antauro se rebelou novamente, em Andahuaylas em 1o. de janeiro de 2004, Humala, em Seul, o apoiou através de um comunicado. Em represália, foi definitivamente afastado do exército.
Mídia convoca: “todos contra Ollanta”
Sem partido próprio [1], dispondo apenas de um frágil nível de organização no país, Humala apresenta-se como o líder “de uma equipe de patriotas e jovens, que não têm nenhum compromisso com o poder político ou econômico, e que quer levar a cabo uma grande transformação do país.” Ele quer nacionalizar o gás natural, o petróleo e a eletricidade, livrar-se da Constituição de 1993 ? camisa de força que impede o Estado de intervir na economia, regulamentar os investimentos estrangeiros, dar prioridade à agricultura de subsistência e à indústria nacional. Opõe-se à assinatura dos Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, que o presidente Alejandro Toledo negocia em marcha batida.
Nas selvagens e desoladoras serras da Cordilheira dos Andes e nos entroncamentos das favelas, os deserdados fazem de Humala seu herói. Ele é conhecido apenas pelo primeiro nome: “Ollanta”.
Tendo se tornado pragmático com a idade, García coloca-se a favor de uma “transformação responsável”. Ou seja, pouca ou nenhuma mudança. Logo, em função de quem estará no governo, o Peru vai se juntar ao eixo “racional” da América Latina, formado por Brasil, Argentina e Chile ou ao bloco “radical” que é representado por Venezuela, Bolívia e Cuba. Para a mídia, que algumas semanas antes o execrava, García de repente transforma-se no salvador da pátria. Uma feroz campanha cria um novo partido político: o “Todos contra Humala”.
Sua família (um pouco incômoda, é verdade) é bastante reprovada. Seu pai, Isaac, criador e ideólogo do etnocacerismo [2], sonha, com base em uma teoria étnica duvidosa, em ressucitar Tahuantinsuyo ? império Inca que se estendia completa ou parcialmente sobre os atuais territórios do Peru, Colômbia, Bolívia e Chile. Seu irmão que foi preso, Antauro, está um pouco distante e não parece muito interessado em respeitar a democracia. Sua mãe certa vez se pronunciou pela execução de homossexuais ou a sua expropriação da mídia. Humala se defende. “Tenho 43 anos e não posso ser responsabilizado pelo que dizem meus parentes ou meus irmãos. Eles não pertencem ao meu partido, eu não compartilho de suas opiniões.” Mas não adianta.
Preconceito, acusações sem provas, massacre
“Ollanta é anti-semita”. Em seguida foi acusado de ser financiado pela “plutocracia judaica”. Teve que explicar que se reuniu com um grupo de empresários judeus ? entre eles Isaac Galsky, Salomon Lerner e Isaax Mekler — para lhes explicar… que não era anti-semita.
“Ollanta é assassino”. Acusam-no de atrocidades quando, em 1992, engajado na luta contra o Sendero Luminoso, comandava a base anti-subversiva Madre de Díos. Possível, mas curioso. Seu nome aparece no relatório final da Comissão de Verdade e Reconciliação [3], da qual um antigo membro, Carlos Tapia, foi porta-voz em sua campanha. Por outro lado, uma das heranças mais funestas da presidência de García foi a aparição dos esquadrões da morte. Ligados a certos setores do APRA e contando com a tolerância do governo, eles fizeram dos desaparecimentos uma prática sistemática na luta anti-subversiva.
Ninguém esqueceu por aqui dos massacres de El Frontón e de Lurigancho. Nestas duas prisões (assim como em Santa Bárbara), em 17 de junho de 1986, os detentos do Sendero Luminoso se revoltaram e fizeram reféns. Em El Frontón, a marinha interveio. Balanço das vítimas: 3 membros das forças armadas, um refém e 135 prisioneiros. Em Lurigancho, onde os amotinados não tinham nenhuma arma, os 124 senderistas morreram assassinados, um por um, com uma bala na nuca. Em lugar de ordenar uma investigação, o presidente García felicita o Comando e proíbe o acesso de juízes e civis nos locais. Entendendo que a força utilizada no ataque aos amotinados era toralmente desproporcional ao perigo realmente existente, uma comissão de inquérito nomeada um ano mais tarde atribuiria a responsabilidade do massacre aos oficiais encarregados da operação, ao Conselho dos Ministros e ao Presidente. Mas não houve consequência alguma.
“Ollanta é fascista, está se organizando para constituir um governo militar”. “Estão tentando confundir a população”, defende-se o acusado. “Eu venho do exército, mas sou um homem político. Se for eleito, os militares exercerão o papel constitucional que lhes cabe: a defesa da soberania do território. Eu não vejo porque ocupariam funções civis.”
A importância do “fator Chávez”
“Ollanta é nacionalista” ? ele o reivindica ? e anti-chileno. Anti-chilenos todos os peruanos são, em maior ou menor grau, assim como os bolivianos. Aliados na guerra do Pacífico (1879-1884) contra o Chile, nenhum deses povos esqueceu a perda das províncias de Arica, Tarapacá e Antofagasta (sendo que os bolivianos perderam seu acesso ao mar nesta ocasião). Por outro lado, Lima jamais perdoou que, em plena guerra do Peru com o Equador, em 1995, Santiago tenha vendido secretamente armas a Quito.
Sem conferir outra medida a este passado, Humala ressalta: “Nós saudamos a vitória de Michelle Bachelet. Ela ajudará a consolidar uma América Latina integrada política, social e economicamente. Eu espero trabalhar de mãos dadas com as forças progressistas do Chile.” Mesmo se para isso for necessário colocar limites aos investimentos de Santiago nos setores estratégicos [4]. “Não por ser anti-chileno, mas porque, por exemplo, há uma concorrência comercial entre os portos de Mejillones (Chile) e Callao (Peru) pelo mercado da Bacia do Pacífico.
Durante este tempo, pretendendo vencer a “direita militarista” que “glorifica o ódio, a violência e o confronto”, o “não-nacionalista” Alan García permeia sua campanha de frases de efeito: “Em pouco tempo nós vamos ultrapassar o Chile em matéria de desenvolvimento econômico e social. O Peru será maior que o Chile!”
A “Ollanta”, acusam de ser finaciado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Pior: ele seria sustentado por Chávez! Mais que a situação crítica de milhões de peruanos, o tema tornou-se o eixo da campanha de García. Um grande clássico, no entanto. A direita boliviana procede do mesmo modo com Evo Morales. Em 100 dias, este nacionalizou os hidrocarbonetos, deu início a uma reforma agrária e convocou uma Assembléia Constituinte para refundar o país. Na véspera das eleições para esta Assembléia, em 2 de julho, o partido Podemos, do ex-presidente Jorge Quiroga comprava páginas inteiras de publicidade: “As tropas de Chávez ocupam a Bolívia” [5].
Para Humala, o “crime” começou em 2 de janeiro de 2006. Convidado para ir a Caracas pelo Movimento 5a. República (MVR), partido do presidente venezuelano, ele apareceu numa coletiva de imprensa concedida por este último e Evo Morales, então recém-eleito. Apresentado para Chávez, o dirigente do PN-UPP foi calorosamente acolhido. Considerando este episódio banal como uma ingerência, a direita peruana se inflamou, e Lima chamou seu embaixador para uma consulta.
Um incidente diplomático fatal
Ofendido ao vivo, Chávez qualifica a candidata Flores como “representante da oligarquia”. O que não é mentira, mas não combina muito com as práticas clássicas da diplomacia… “Chávez não é o presidente da América Latina”, retruca Toledo, furioso. “Ele pode ter quantos petrodólares quiser, isso não permite que desestabilize a região.” Ao solicitar em Caracas a intervenção da Organização dos Estados Americanos (OEA), ele é chamado de “choramingas” por seu homólogo. No mesmo instante, em nome da dignidade nacional, García se envolve na confusão. Chávez replica tratando-o por “ladrão” e “vadio”, anunciando imprudentemente que romperá relações diplomáticas com Lima se García for eleito presidente.
Como era de se esperar, os Estados Unidos se envolvem e denunciam a famosa “ingerência” da Venezuela [6]. Mas se esquecem de dois ou três fatos bem mais fortes do que os excessos de linguagem do presidente bolivariano. Assim… na Nicarágua, diante da possível vitória do sandinista Daniel Ortega, em novembro próximo, o embaixador americano, Paul Trivelli, se reuniu com os principais dirigentes de direita para lhes incitar a formar uma aliança. Nos mesmos moldes, os Estados Unidos criaram um escritório da transição na… Venezuela, do mesmo modo que criaram uma “Comissão de ajuda a Cuba livre”, destinada a orientar os destinos da ilha [7].
Desconsideremos os grandes problemas do Peru. O evento de encerramento da campanha de García, em 30 de maio, intitulava-se “Com Chávez ou com o Peru”. Simpático, grandiloqüente, teatral, o candidato pronuncia-se para a multidão e as câmeras: “O país deve saber que é objetivo de uma estratégia internacional, golpista, obscura, reacionária, que irá confiscar os direitos do povo e que é impulsionada pelo déspota Chávez, a partir da Venezuela.” Para assegurar o efeito de suas palavras, ele arremata dizendo que Chávez declarou guerra ao Peru e que Humala seria o chefe de uma “quinta coluna”.
O ambiente é tenso e a incerteza paira no ar. “O que você faria se tivesse que escolher entre um ladrão e um assassino?” Para uns, o país vai bem. Para outros, vai mal. No entanto, a economia flutua sobre um verdadeiro “boom” (a China precisa de matéria prima ? ouro, prata, cobre, zinco), a indústria petrolífera obtém lucros fabulosos. Estes lucros só beneficiam uma pequena minoria que vive nas grandes cidades. Uma extrema complacência pelo capital estrangeiro, as multinacionais e seus parceiros locais (os grupos Benavides, Romero, Grana & Montero, Mohme, Miro Quesada, Delgado Parker…). Há um enfraquecimento programado das empresas públicas. Em resumo, a continuação das políticas neoliberais de Fujimori.
Em 2005, as exportações dobraram em relação a 2001. Ao mesmo tempo, por falta de redistribuição, o índice de pobreza caiu de 53,4% para 51,6% apenas [8]. O país vive sobre um barril de pólvora, todo mundo sabe. Mesmo dentro do APRA. “Nós não podemos negar que a presença de ’Ollanta’ trouxe à baila temas que os candidatos do primeiro turno não se arriscariam a abordar de frente”, admite Abel Salinas, coordenador técnico do Plano de Governo de García.
Derrota nas urnas, vitória política
Lima contra o Peru! Voto “pelo menos pior”. Em 4 de junho, García ganha (52% dos votos) graças à capital e a alguns rincões do norte do país (Libertad, Piura, Lambayeque…). Com prazer, ele não se abstém de continuar afrontando Caracas: o único derrotado destas eleições foi… “Chávez”.
Por outro lado, alguns se questionam. Esta identificação de Humala com a onda revolucionária não teria lhe custado a vitória? [9] Duvidoso. Ela explica com certeza que, apesar da demonização da qual foi objeto, ele aumentou seus votos de 17% entre o primeiro e o segundo turnos, para obter, depois de apenas oito meses de existência política, 48% dos votos.
Representando a reação contra os “politiqueiros” incompententes, mentirosos e corruptos, Humala venceu disparado em 15 dos 25 departamentos, sobretudo na serra central e no sul, que têm uma grande maioria indígena ? Huancavelica (78,9% dos votos), Ayacucho (83,9%), Cuzco (73,1%), Apúrimac (70,9%), etc. Ali reinam os mais altos índices de pobreza. O que o permite declarar, sereno, na noite da eleição, ter obtido “uma vitória social e política”.
A seu resultado promissor, soma-se o de seu partido, o PN-UPP: com 45 deputados (dos quais 19 são mulheres), tornou-se a maior bancada, à frente do APRA (36 representantes), sendo que nenhum grupo formou a maioria [10].
Herança terrível do Sendero e da repressão
Acontece que as regiões onde Humala se impôs, são as que, mais por frustração do que por convicção ideológica, têm levado os outsiders ao poder: “a honestidade e a tecnologia” do chinito Fujimori (1990-2000), “os milhões de empregos” do cholito Toledo (2001-2006) [11]. O Peru não tem nada a ver com a Bolívia dos poderosos setores sociais, dos sindicatos, dos mineiros organizados. O terror do Sendero Luminoso e a violência da luta anti-subversiva destruíram-lhe os movimentos populares. Os militantes de esquerda se refugiaram nas organizações não-governamentais. Alguns se uniram a Humala. Outros, a seu inimigo tradicional, o APRA.
Lúcido, Humala não ignora que tenha sido beneficado pelo voto de protesto. “As organizações indígenas peruanas não são tão unidas em torno de reivindicações estruturadas quanto suas equivalentes bolivianas. Este será o nosso desafio, a médio prazo: reunir todos estes movimentos e tentar abrir um espaço político.” Desde a noite de sua derrota, ele pede pela formação de uma frente nacionalista, democrática e popular.
Para ganhar a parada, ele pode se apoiar sobre a dinâmica regional. Nos planaltos varridos pelos ventos frios, a vitória do “índio” Evo Morales não passou despercebida. Na tentativa de mostrar Chávez como um espantalho, a direita acabou por fazer bastante publicidade dele. Se os ricos falam tanto mal dele, este Chávez não deve ser assim tão ruim! As favelas estremeceram. Em Caracas ? seria necessário dizer? ? Humala é visto com simpatia. Na Bolívia, uma pessoa próxima ao presidente Evo Morales confidencia: “Eu acredito que os povos do continente querem a mudança. Teria sido ainda mais evidente se Ollanta tivesse ganhado, mas ele está comprometido a continuar. É um aliado das políticas feitas na Bolívia e em outros países”. Mas, no fim das contas, o melhor aliado de Humala poderia bem ser… o presidente García.
A estreita margem de manobra de García
Na véspera das eleições, Coronado estava preocupado. “Se García ganha, muitos de seus votos virão da direita, e estas pessoas não desejam nenhum tipo de evolução. Se ele mudar, eles o deixarão. E são eles que sustentam a economia. Mas ao mesmo tempo, os pobres e os desesperados não querem mais esperar…”
Em 28 de julho, o novo presidente abre o jogo. Eleito graças aos votos “emprestados” pela candidata Flores, ele não se sente no direito de preocupar ainda mais aqueles que, gelados de medo, batem à porta de seu escritório. Em seu discurso de posse, pede às empresas mineradoras, que obtêm lucros fantásticos graças ao aumento dos preços dos minérios, que compreendam a grave situação que atravessa o Peru e que ofereçam “voluntariamente”, por meio de doações, alguns milhões de dólares “para finaciar a luta contra a pobreza”. Mendigar uma esmolinha é melhor que aumentar os impostos! Por outro lado, acreditando aproximar-se de Brasília, Santiago e Washington, ele desaprovou a nacionalização dos hidrocarburetos na Bolívia.
Uma coisa induzindo à outra, anunciou ainda um programa drástico de austeridade pública. Esquecendo a promessa de voltar à Constituição de 1979 (suspensa, depois reformada em 1993 por Fujimori), ele não menciona mais o processo de extradição deste último (que se encontra em prisão domiciliar no Chile). Por não dispor de maioria no Congresso, será que espera com isso conquistar os partidários do antigo ditador? É possível. O grupo parlamentar fujimorista Aliança para o Futuro (13 deputados) anuncia que exercerá “uma oposição construtiva” [12]. Assim como o Peru Possível (PP), de Toledo. É verdade que este último e Flores rapidamente conseguiram cargos. García inclui em seu gabinete membros do antigo governo, abertamente neoliberais. Entre eles, o ministro da economia, Luis Carranza Ugarte, a ministra dos transportes e das telecomunicações, Verónica Zavala, o ministro da produção, Rafael Rey Rey…
Com um terço do Congresso, uma boa implantação nas zonas mais pobres e um discurso que evoca os de Chávez e de Morales, Humala não tem intenção de dar trégua ao governo. “As circunstâncias determinarão o terreno da oposição”, ele advertiu. “As escolhas do Congresso ou das ruas acontecerão em função da realidade política, das forças sociais organizadas e igualmente da ação do governo”. A elei
Maurice Lemoine é jornalista e autor de “Cinq Cubains à Miami (Cinco cubanos em Miami)”, Dom Quichotte, Paris , 2010.