A extorsão do descredenciamento
Além de pagar uma exorbitância – sem qualquer garantia legal – pela exposição de seu produto nas prateleiras dos supermercados e hipermercados, o fornecedor se vê ameaçado com a possibilidade de descredenciamento se não colaborar com uma “bonificação”…Christian Jacquiau
Tomemos o exemplo de uma pequena empresa que fabrica tabletes de chocolate. Sua escala comporta cinco produtos diferentes: chocolate preto, branco, ao leite, com avelãs e com amêndoas. Ela dispõe de um produto de ótima qualidade, desfruta de uma excelente imagem e decide dar um salto e ser distribuída em grandes e médios supermercados. Fica ainda mais estimulada porque o enfraquecimento do comércio tradicional não lhe permite mais, apesar de seu próprio potencial, visualizar o futuro com serenidade. Diante dela, o que se acredita ser um mercado inesperado: uma poderosa rede que reúne 1.500 supermercados e 200 hipermercados.
O mecanismo de extorsão
Uma empresa familiar que fabrica cinco tipos de chocolates terá que pagar 2,8 milhões de reais para ver seus produtos nas estantes de um hipermercado
É aí que começam as surpresas desagradáveis: para o credenciamento de apenas seus cinco tipos de tabletes de chocolate no supermercado, a empresa deverá pagar à central de compras 150 euros (555 reais) por tipo de produto (750 euros, ou 2.775 reais, pelas cinco variedades), o que, para os 1.500 pontos de venda da rede, representam 1.125.000 euros (4, 16 milhões de reais). Para os hipermercados, a empresa deverá desembolsar 750 euros por tipo de produto e 3.750 euros (13.875 reais) para o credenciamento de sua série de produtos para cada estabelecimento, ou seja, 750 mil euros (2,8 milhões de reais) para os 200 hipermercados da rede. No total, essa operação custará, portanto, 1.875.000 euros (quase 7 milhões de reais), que devem ser pagos sem nenhuma garantia de encomenda, nem de quantidade, nem de perenidade das relações comerciais. Preenchido o cheque, o mecanismo de extorsão é então assinado, inexoravelmente, podendo chegar até o fechamento da empresa em caso de… “descredenciamento”.
Recentemente, por exemplo, um grande nome da indústria alimentícia francesa se viu diante de uma exigência de 2% a mais de “bonificação”. Tendo chegado ao limite de suas possibilidades, não podia consentir um centavo a mais de desconto. Para puni-la, os dois principais produtos de sua gama não foram mais comprados pela central de compras. Duas fábricas tiveram de ser fechadas. Não havia reivindicação alguma por parte dos acionistas, nada de fundos de pensão norte-americanos intransigentes nessa bela empresa familiar. É exatamente o que acontece com as exigências das centrais de compra das grandes redes de distribuição francesas, cujo insaciável apetite por lucros constitui uma ameaça para a economia.
Christian Jacquiau é economista, autor de Les coulisses du commerce équitable. Mensonges et vérités sur un petit business qui monte. Paris, Mille et une Nuits, 2006.