A negociata Sanofi-Aventis
A compra da Aventis pela Sanofi-Synthélabo foi recebida como boa notícia para a economia francesa. Mas a operação envolveu pagamento aos acionistas da Aventis e prejuízo aos assalariados do novo grupoPhilippe Pignarre
O anúncio da compra da Aventis pela Sanofi-Synthélabo foi quase unanimemente recebido como uma boa notícia: um grande grupo francês nascia na farmácia, tornando-se o terceiro laboratório mundial em faturamento. Isso ajudaria a reativar uma política francesa de pesquisa, que necessita bem disso. A operação ilustraria um política industrial colbertista1: “tipicamente francesa”. Os acordos não foram firmados na própria sala do ministro da economia e das finanças, Nicolas Sarkozy?
Poucos comentaristas, no entanto, examinaram de perto a maneira como a operação foi concebida do ponto de vista técnico. Contrariamente às múltiplas operações precedentes (entre a Sanofi e a Synthélabo ou entre a Rhône-Poulenc e a Hoechst, por exemplo), não se trata de uma fusão, mas uma oferta pública de compra (OPA). Em uma fusão cada um traz suas ações, a parte mais forte fica com a direção dos negócios, já que seus acionistas são majoritários no novo conselho administrativo. Ao contrário, depois da OPA que acabou de acontecer, foi o “menorzinho”, a Sanofi, que obteve a direção da nova sociedade Sanofi-Aventis. Qual foi o milagre?
Com dinheiro alheio
A Sanofi-Synthélabo não dispõe desse dinheiro para pagar acionistas: precisa pedir aos bancos
A Sanofi-Synthélabo ofereceu aos acionistas da Aventis ficar com seis ações da Aventis em troca de cinco ações da Sanofi-Synthélabo e de uma quantia – paga em dinheiro – de 115,08 euros. Ou seja, como há mais de 800 milhões de ações Aventis em circulação, perto de 16 bilhões de euros – uma vez e meia o famoso déficit da previdência social! Numa primeira proposta, a quantia a ser distribuída aos acionistas, já considerada enorme, elevava-se a 8 bilhões. Foi antes da intervenção de Sarkozy. Mas a Sanofi-Synthélabo não dispõe desse dinheiro: precisa pedir emprestado aos bancos (um consórcio dirigido pelo Banco Nacional de Paris) e pagar em cinco anos.
Dezesseis bilhões de euros representam a soma necessária para inventar vinte novos remédios (usando os números oficiais da indústria farmacêutica), ou oitenta, segundo os números, bem mais críveis, fornecidos por vários analistas do setor. Ora, esta massa de dinheiro não servirá para uma tal ambição, será pura e simplesmente distribuída aos acionistas da Aventis. Quem pode acreditar então que esta operação é uma nova manifestação do gênio econômico francês ?
Quem perde
Do ponto de vista dos assalariados e dos pesquisadores, só uma fusão sem distribuição de dinheiro seria aceitável
Todo o peso da operação é posto na nova empresa, submetida a estas condições. Perderão, em primeiro lugar, os assalariados do novo grupo. O mais simples, para recuperar logo estes 16 bilhões, é produzir o mesmo faturamento, gastando menos. O fechamento de locais de produção e unidades de pesquisa é portanto previsível, acompanhado da supressão de empregos. Projetos de pesquisa serão abandonados.
A seguridade social corre o risco de ser a segunda a perder: é verossímil acreditar que garantias foram dadas aos dirigentes da Sanofi-Synthélabo sobre os preços dos futuros medicamentos do novo grupo. Se entre 1990 e 2001 o gasto com medicamentos aumentou de 63% na França (contra 17% na Alemanha e 28% na Itália), os próximos anos podem ser piores, aproximando-nos do modelo americano – que se constata, no entanto, estar à beira da explosão.
Do ponto de vista dos assalariados e dos pesquisadores, só uma fusão sem distribuição de dinheiro seria aceitável. Seria também o modo mais fácil e menos arriscado para a coletividade.
(Trad.: Betty Almeida)
1 – Alusão a Colbert –